A Embrapa Semi-Árido está estudando alternativas à mamona como fonte
para a produção de biodiesel em áreas de sequeiro da região Nordeste.
E, nesse sentido, as fichas da estatal estão depositadas no pinhão
manso, um arbusto que apresenta, pelo menos em tese, produtividade de
até 2,5 toneladas por hectare, ante 600 quilos de mamona por hectare
quando em área de sequeiro. Divulgação
"Ainda é cedo para adiantar qualquer resultado, que só deve começar
aparecer em dois anos. Mas trata-se de uma alternativa a mais para os
produtores do semi-árido, que hoje não estão conseguindo fazer a
produção de mamona decolar a despeito de toda propaganda feita",
afirma Marcos Antônio Drumond, pesquisador da Embrapa Semi-Árido e
coordenador da pesquisa em torno do pinhão manso.
Segundo pesquisadores, o biodiesel de mamona, alardeado pelo governo
federal como a melhor opção de renda para o semi-árido nos últimos
tempos, não decolou e nem vai decolar tão cedo. As razões para isso
estão nos baixos preços da semente de mamona. A semente seca da
"carrapateira", como é conhecida no sertão, não tem encontrado
comprador nem mesmo por R$ 0,25 o quilo, na região do vale do
submédio São Francisco.
Inicialmente, o preço projetado pelos programas oficiais de incentivo
ao biodiesel de mamona chegava a R$ 1,50. "Os agricultores não
encontram para quem vender. Faltam garantias de preço, crédito para o
plantio e garantias de venda".
Segundo Drumond, os agricultores que firmaram contrato diretamente com
algumas empresas produtoras de biodiesel têm conseguido melhores
preços, mas ainda assim bem distantes das previsões iniciais. Nas
melhores situações, o preço do quilo da semente chega a ser
comercializado por R$ 0,55, em volumes de até 500 quilos por hectare.
Acima desse volume paga-se R$ 0,10 por quilo excedente.
"Hoje em dia só viver de plantar mamona não dá resultado. Os produtores
de Irecê [BA] são os maiores do país porque fazem a cultura da mamona
consorciada com outras, como o feijão. É necessário buscar alternativas
para as diversas áreas do semi-árido, e essas pesquisas estão
começando agora", diz Marcos Antônio Drumond.
Ele explica que o pinhão manso mostra-se viável para o semi-árido
também porque uma planta chega a produzir por até 40 anos. O
rendimento na produção de óleo situa-se entre 28% e 40% - abaixo da
mamona, que pode render algo entre 46% e 50%. "Mas a mamona não
suporta competição durante os dois primeiros meses de vida e precisa
ser renovada a cada dois anos, além de também não suportar altitude",
diz. No caso do pinhão, há outra vantagem: o volume de água necessários
é baixo.
O uso do pinhão manso na produção de biodiesel já acontece em países
como Índia e Tailândia. Outros Estados do país, como Bahia e Minas
Gerais, também desenvolvem pesquisas com o arbusto desde 2005. No caso
da Embrapa, o pinhão manso vem sendo testado em três campos
experimentais em Petrolina (PE), Glória (SE) e Senhor do Bonfim (BA).
Nesses pontos estão sendo avaliadas questões como espaçamento entre
as árvores, tipos de poda, necessidade hídrica e produtividade em
áreas de sequeiro, entre outras.
Investimento português incentiva pinhão manso
A confirmação da venda da Indústria Nordestina de Óleos Vegetais
(Inove) - localizada em Petrolina (PE) e que estava arrendada à
Caramuru Alimentos - para a empresa portuguesa HLC, com forte atuação
no setor energético, atiçou o interesse dos produtores locais pelo
pinhão manso. Segundo o prefeito Fernando Bezerra Coelho (PSB), a HLC
deverá investir R$ 70 milhões para produzir óleo à base de soja e
biodiesel a partir do pinhão.
A atenção foi despertada justamente em função dos custos de produção.
Enquanto o litro do produto feito à base de pinhão manso sai por R$
0,29, o mesmo produto obtido a partir da mamona não sai por menos de
R$ 1,35, segundo dados da Conab.
"O governo quer que plantemos mamona, mas não conseguimos crédito e o
preço da mamona está muito baixo. Por R$ 0,25 ou R$ 0,30 nem compensa
o trabalho. Mas com uma fábrica aqui, esta coisa do pinhão manso
começa ser uma nova oportunidade de garantir algum dinheiro para o
trabalhador", acredita José Eudócio dos Santos. Ele foi um dos muito
agricultores que participaram da Iª Agrishow Semi-Árido, evento
realizado na semana passada e voltado para a difusão de tecnologias
para pequenos agricultores.
Apenas em Petrolina, a área de sequeiro que pode vir a ser utilizado
na produção de biodiesel é estimada em 20 mil hectares. E os baixos
custos de produção de biodiesel a partir do pinhão manso não animaram
apenas a HLC. A Petrobras está estudando a utilização do arbusto na
usina que vai implantar na cidade mineira de Montes Claros (MG) com
capacidade para produzir até 40 milhões de litros por ano.
"A produção de biodiesel de mamona só é viável quando subsidiada. O
governo federal alardeou que a mamona poderia ser plantada em todo o
país e depois teve que recuar e delimitar áreas para este fim. Se as
pesquisas da Embrapa com o pinhão manso derem os resultados esperados,
a situação muda ainda mais", diz um técnico da Empresa Pernambucana de
Pesquisa Agropecuária (IPA).
Mas, segundo o prefeito Coelho, também faz parte do projeto da HLC a
ampliação da capacidade de processamento de mamona da Inove, de 50 mil
para 100 mil toneladas. "A mamona viria originariamente da própria
região ou de Irecê, na Bahia. Até que os investimentos sejam concluídos
a Biovasf [Biodiesel do Vale do São Francisco, nome da empresa que
será constituída] esmagaria mamona, que seria substituída
gradativamente pelo pinhão roxo até o fim de 2007".
Marcos Antônio Drumond, pesquisador da Embrapa Semi-Árido e
coordenador da pesquisa em torno do pinhão manso, ressalva que o
comportamento da planta no semi-árido ainda não está bem avaliado e
que os primeiros resultados devem demorar para aparecer. "O pinhão
manso é uma alternativa a mais e também não pode ser tratado como a
solução definitiva para o problema do semi-árido".
(Por Paulo
Emílio,
Valor Econômico, 17/07/2006)