Um acervo literário de mais de 3 mil volumes, salvos do lixo por um catador de Alegrete, serve agora à comunidade. A iniciativa é de Luiz Dermolvão Irala Abreu, conhecido como Funcho, seu apelido de infância. Recolhendo materiais recicláveis para transformar em sustento da família, ele encontrou também livros e material didático. Hoje, possui na casa onde mora, na rua Nelci Fontoura Pedroso, bairro Santo Antônio, desde obras de escritores gaúchos, como Erico Verissimo, Mario Quintana e Moacyr Scliar, até uma coleção de Medicina. Com a ajuda de amigos, conseguiu material para construir uma peça que passará a abrigar a biblioteca comunitária, ampliada com doações.
Com freqüência, Funcho recebe a visita de moradores do bairro para pesquisas no acervo ainda guardado em caixas e em prateleiras improvisadas. Está empenhado agora em separar as obras por assunto e catalogar, "para facilitar o manuseio dos alunos e interessados", enquanto sonha com um computador para facilitar a organização.
Com problemas de visão, o catador de 45 anos, casado e com três filhos - um deles já cursando faculdade de Letras -, ressalta que é o prazer pela leitura que o fez aprender a gostar de livros desde a infância. Sua receita para quem pretende "ocupar um espaço no mundo" é "ler mais e mais para ter uma formação". Funcho acredita que esse também pode ser um caminho para manter os jovens ocupados. "Se um menor ficar uma hora na biblioteca, lendo e pesquisando, estamos tirando alguém das ruas", afirma. Funcho revela planos traçados para depois que concluir a segunda etapa do curso de Educação de Jovens e Adultos (EJA). O alegretense planeja participar do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), em agosto, e inscrever-se depois para o vestibular de Letras. "O que é preciso é sonhar, sonhar alto, porque sem isso e sem força de vontade não se vai a lugar nenhum", diz.
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Correio do Povo, 16/07/2006)