Os entrevistados preocupam-se com danos à economia e ao meio
ambiente. As políticas energéticas dos governos são danosas ao meio
ambiente, desestabilizadoras da economia global e ameaçadoras da paz
mundial. Para superar esses aspectos negativos, os governantes deveriam
incentivar o uso e a geração de fontes renováveis de energia mediante
redução de impostos e elevar os padrões de eficiência no consumo de
combustíveis pelas frotas de veículos. Esta é a conclusão de uma
pesquisa encomendada pela rede BBC ao instituto canadense GlobeScan,
e realizada junto a 18.779 pessoas de 19 países, inclusive o Brasil,
para ser divulgada durante a reunião do G-8 neste fim de semana,
em São Petersburgo, na Rússia.
O levantamento mostra que de cada dez cidadãos, oito (81%) estão
preocupados com as ameaças ao meio ambiente e ao clima resultantes
da maneira atual com que os países produzem e consomem energia.
Grã-Bretanha, Austrália, Canadá e Coréia do Sul são os países cuja
população se mostra mais apreensiva em relação ao impacto negativo
das políticas energéticas, sobressaindo-se, entre estes os ingleses,
dos quais mais de 90% admitem estar preocupados.
Três em cada quatro cidadãos (77%) acreditam que os apagões energéticos
e a elevação dos preços do setor tornarão as economias mais frágeis e
instáveis, proporção bem próxima (73%) à dos que avaliam que a
competição por mais energia levará a nova crise mundial e à
possibilidade de novos conflitos entre as nações.
A desestabilização da economia como resultado de crises de energia
encontra nas Filipinas o maior índice de preocupação (95%) e o menor
(apenas 48%) na Rússia, país que tem se beneficiado da disparada dos
preços do petróleo e do gás.
O apoio a incentivos fiscais para promover o desenvolvimento e uso de
energias alternativas, como solar e eólica, é recorde na Itália (95%),
seguido pela Austrália (93%), Canadá (91%) e França (91%). Italianos
e australianos são também os que mais apóiam a criação de novos
parâmetros pelo governo no sentido de exigir das montadoras de carros
soluções eficazes no uso de combustível, mesmo que isso signifique
aumento de preços.
Um aumento nos impostos para incentivar a conservação conta com o
endosso de quase quatro em cada dez entrevistados (37%). Os ingleses
são os maiores incentivadores dessa opção (62%), seguidos pelos
australianos (61%).
Os entrevistados manifestaram-se apreensivos com a possibilidade de
os principais fornecedores, especialmente Irã, usarem a energia como
arma política e cancelarem o suprimento em caso de agravamento de
crises como a desencadeada pelo programa nuclear iraniano. A opinião
pública em 17 dos 19 países consultados está inclinada a desconfiar
do Irã como fornecedor. As duas exceções são o Egito e a Índia. As
visões sobre a Rússia estão divididas: 45% confiam no país como
fornecedor, enquanto outros 45% desconfiam.
Enquanto as fontes alternativas contam com ampla simpatia, a energia
nuclear conta com pouco apoio, segundo a pesquisa da BCC. Apenas
metade (49%) da opinião pública é favorável ao seu uso como estratégia
para reduzir a dependência do petróleo e do carvão. Indianos (66%),
egípcios (65%), quenianos (65%) e sul-coreanos (65%) são os que mais
apoiam a energia nuclear, enquanto os ucranianos (67%) são os principais
opositores, índice justificado por terem vivido a tragédia de Chernobyl,
em 1986.
Alemães, russos e franceses também são majoritariamente contra: 63%,
60% e 57%, respectivamente.
Pesquisa aponta urgência em se promover mudança no modelo de produção e uso de energia
Na opinião de Fabián Echegaray, diretor da Market Analysis, empresa
que conduziu a pesquisa no Brasil, os dados mostram que é urgente a
necessidade de se promover uma mudança no modelo de produção e uso de
energia, já que o mundo o enxerga como fonte de guerras, crises
econômicas e desastres ambientais. "Ele é visto como uma proposta
onde todos perdem, em todos os terrenos relevantes à vida das pessoas,
seja em países ricos ou pobres".
"O consenso sobre a inviabilidade de continuar com o modelo atual é
notável. Há uma grande expectativa de que o G-8 dê passos concretos
para uma solução", comenta Echegaray, ao lembrar que "em outras épocas
preços altos da gasolina ou risco de apagão preocupavam pelo impacto
financeiro ou produtivo." "Hoje -- ressalta -- as pessoas vinculam esses
problemas a valores que vão além do material, como ameaças ao meio
ambiente e à qualidade de vida."
No Brasil, foram entrevistados 800 adultos nas oito principais capitais
(São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador, Recife, Porto
Alegre, Curitiba e Brasília), ao longo de junho de 2006. Nos outros
18 países, o estudo foi coordenado pela GlobeScan.
Ao todo, foram ouvidas 18.779 pessoas, em maio e junho de 2006. Além
do Brasil, participaram Alemanha, Austrália, Canadá, Chile, Coréia do
Sul, Egito, Estados Unidos, Filipinas, França, Grã Bretanha, Índia,
Israel, Itália, México, Polônia, Quênia, Rússia e Ucrânia.
(Por Gabriel de Sales,
Gazeta Mercantil, 17/07/2006)