Pelo menos 25 famílias catarinenses têm o privilégio de viver em Reservas de Patrimônio Natural. Mas não se tratam de posseiros ou invasores de parques florestais. Os proprietários das terras decidiram transformá-las em unidades de conservação reconhecidas pelo Ibama, abrindo mão da exploração comercial. Em compensação, eles mantêm os locais afastados da ação do homem, embora permitam pesquisa, lazer e educação ambiental.
Entre os grotões da Rua Jordão, no Bairro Progresso, fica a Reserva Bugerkopf - que significa Cabeça de Bugre -, onde mora o biólogo e militante ambiental Lauro Bacca. Os 827 mil metros quadrados de Mata Atlântica foram adquiridos por ele há 16 anos. Desde então, pouco ou quase nada foi modificado por seres humanos. Segundo Bacca, existem locais no interior da mata nunca visitados.
- Em reserva não se mexe, a natureza que se vire sozinha. Se eu quisesse, teria lenha para os próximos 50 anos só com a madeira seca daqui, mas eu prefiro comprar no marceneiro e deixar essa aqui - opina Bacca.
Os tocos secos e apodrecidos são um prato cheio para cupins, formigas e outros insetos, que, por sua vez, viram comida de tamanduás, como o que rondou a casa da família no início da semana. Há pelo menos 30 anos, ninguém tira madeira de dentro do terreno. Nas partes mais altas, o predomínio de árvores de grande porte, como cedros e figueiras, repletas de bromélias, indica que ali a natureza é quem dita as regras.
Na reserva, já foram avistados quatis, tatus, veados e tamanduás
Ainda não há um levantamento científico completo das espécies presentes na Reserva Bugerkopf. Mas já foram avistados quatis, tatus, veados, espécies de felinos, tamanduás e variadas espécies de aves. Na casa da família, há um quarto especial para pesquisadores e observadores de pássaros. Há um grupo da Furb que faz visitas periódicas noturnas para acompanhar a rotina de corujas.
Na tarde de sexta-feira, no filete d´água de um dos vários córregos que cortam a reserva, Bacca encontrou um pequeno caranguejo de água doce morto. A estiagem não perdoou as reservas naturais.
Como criar uma reserva particular
- O proprietário deve enviar um requerimento ao Ibama, solicitando o reconhecimento da reserva particular. É possível incluir apenas parte do terreno na unidade de conservação.
- O Ibama faz uma análise da documentação e, após aprovação, propõe a assinatura de um Termo de Compromisso.
- Após oficializada a reserva, é necessário encaminhar relatório anual ao Ibama sobre as atividades desenvolvidas. Qualquer exploração econômica é proibida.
- O processo de criação não inclui taxas.
- O proprietário deve sinalizar os limites, podendo usar a logomarca do Ibama.
- A reserva só poderá ser extinta ou reduzida através de uma lei específica no Congresso Nacional.
(Por Evandro de Assis,
Jornal de Santa Catarina , 16/07/2006)