Banco de plantas do Cerrado busca novos remédios
2006-07-17
O Banco de Extratos do Bioma do Cerrado, da Universidade de Brasília (UnB), guarda algumas das maiores riquezas vegetais
da região. Trata-se de um acervo com mais de mil espécies catalogadas, de onde os pesquisadores esperam extrair, por
exemplo, remédios contra as chamadas doenças negligenciadas - para as quais as indústrias farmacêuticas destinam pouca
atenção -, como a leishmaniose, malária, dengue e doença de Chagas.
O projeto busca princípios ativos que possam se transformar em novos antibióticos, antifúngicos, antiparasitários e
anticancerígenos. "Hoje nossas empresas farmacêuticas só manipulam princípios ativos importados", diz a coordenadora do
banco de extratos, Laíla Salmen Espíndola. Um dos resultados das investigações é a recente descoberta da capacidade do
extrato das folhas de Jitó, ou Guarea sp, árvore do cerrado, de matar o parasita causador da leishmaniose cutânea, o
Leishmania amazonense. O princípio ativo obtido a partir da planta é letal ao parasita, sem atacar as células dos tecidos
humanos.
De acordo com levantamento da Organização Mundial da Saúde (OMS), 90% dos casos de leishmaniose ocorrem em países
como Brasil, Bolívia, Peru, Índia e Nepal . O principal medicamento usado nos casos de leishmaniose cutânea ainda é o
antimônio pentavalente, administrado em injeções de cinco a dez mililitros - um tratamento doloroso que pode se estender por
até 40 dias.
O uso do medicamento, no entanto, tem alguns inconvenientes. Os casos de interrupção no tratamento e subdosagem são
frequentes. "O antimônio não é uma droga ideal, com nível de insucesso de até 30%", diz Marcelo Nascimento Burattini,
professor da Universidade Federal Paulista.
Entre as doenças endêmicas negligenciadas pelas indústrias farmacêuticas, a malária é a com o maior número de casos no
Brasil. O tratamento ainda é feito com drogas à base de sulfato de quinina, como a cloroquina e a primaquina. Os efeitos
colaterais como vertigens, cefaléias e outros sintomas no sistema nervoso são constantemente descritos como piores que a
própria doença e sua eficácia perdeu efeito com o tempo.
O Camboatá Branco, ou Matayba sp, é uma das esperanças do Banco de Extratos para o tratamento da malária. A planta tem
propriedades ativas sobre o Plasmodium falciparum, parasita causador da doença, sem os efeitos colaterais do quinino.
O mesmo acontece com a Guaçatonga, ou Casearia sp, um arbusto do cerrado. Com características químicas que podem ser
usadas no combate ao parasita Trypanosoma cruzi, causador da Doença de Chagas, a planta tem baixa toxicidade para as
células humanas. O Instituto Farmanguinhos , da Fundação Oswaldo Cruz, é o principal fornecedor do Ministério da Saúde de
medicamentos para doenças negligenciadas.
(Folha de Londrina, 14/07/2006)
http://www.bonde.com.br/folha/folhad.php