Tem cinco letras a matéria-prima que ditou os rumos da vida do agricultor Eduardo Mendes.
Foi com a lenha que ele conseguiu comprar um caminhão, construir uma casa, casar e criar
cinco filhos. Hoje, aos 66 anos, ele orgulha-se de ser o representante de uma profissão
sempre lembrada em desenhos, porém praticamente esquecida na vida real.
Morador de Passo Fundo, no norte gaúcho, Mendes é um lenhador de ofício, que fez da
natureza uma parceira infalível. Foi do avô e do pai que herdou a tradição de cortar
lenha. Desde criança, os acompanhava pelos matagais da localidade de Bom Recreio, no
interior do município. Além de recolher galhos e pequenas árvores para fazer lenha para a
família, dividiam a madeira com vizinhos. Tudo com respeito à natureza, diz Mendes.
- Naquela época o pai e o vô já tinham consciência de não cortar nada perto de rios ou
derrubar árvores menos comuns - afirma.
Com o exemplo de berço e uma vocação para negócios, com 30 anos viu a oportunidade de
alçar vôo rumo à independência financeira. Juntou dinheiro e, na década de 1970, comprou
um caminhão Ford F600, ano 1954. O objetivo: donos de uma propriedade vizinha passaram a
derrubar um mato para vender a madeira e plantar no local. Porém, os galhos das árvores
derrubadas ficavam para trás. Mendes passou a limpar o terreno. O material, retirado
gratuitamente, era vendido. O lucro obtido foi usado na compra de um caminhão Chevrolet
1968.
Mendes vende até 60 sacos de lenha em dias de inverno
Em 1987, após herdar 2,5 hectares da mãe e comprar outro lote de mesmo tamanho de um
irmão, ele resolveu inovar. Em meio à plantação de milho, experimentou largar sementes de
eucalipto. Começava ali a realizar um sonho: ter sua própria floresta. Hoje, é dela que o
lenhador retira a matéria-prima vendida no galpão de madeira construído em frente a sua
casa, no bairro Boqueirão. Em dias de inverno, vende até 60 sacos de lenha, a R$ 5 cada.
- Como plantei as sementes em épocas separadas, sempre tem madeira pra retirar enquanto
as outras árvores crescem. E cuidando da natureza, isso não termina nunca - lembra
Mendes.
A mulher do lenhador, Cecília Formigheri Mendes, 58 anos, diz ter acompanhado uma mudança
no perfil de clientes da lenharia.
- Agora é só gente rica que compra pras lareiras ou pro fogo do churrasco - avalia.
(Por Cleber Bertoncello,
Zero Hora, 16/07/2006)