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2006-07-17
Luís Mira Amaral e Pedro Sampaio Nunes convergiram, num encontro-debate realizado na cidade do Porto, na ideia de que a energia nuclear é a opção de futuro em termos de política energética para o País, com o presidente do Fórum para a Competitividade e ex-ministro da Indústria e da Energia dos governos de Aníbal Cavaco a prever mesmo um ressurgimento à escala mundial do recurso àquela fonte, para fazer face à brutal escalada do custo do petróleo (que ao longo dos últimos meses bateu todos os recordes e fez aproximar dos 80 dólares o preço do barril), e a pedir o fim do que classificou como um “tabu” instalado em torno da “ressurreição” do nuclear.

À margem da iniciativa organizada pelo Núcleo Ocidental do PSD/Porto, que reuniu no Hotel Sheraton vários especialistas na matéria e muitos interessados (a sala, com uma capacidade aproximada de 100 pessoas, estava cheia), Luís Mira Amaral deu como certa a necessidade de “fugirmos do petróleo” e encontrarmos alternativas, e frisou que a existência de centrais nucleares do outro lado da fronteira, em território espanhol, não traz “vantagem nenhuma” para Portugal, desvalorizando os custos ambientais da sua introdução no nosso país, e sublinhando a sua convicção de que introduzir a utilização daquele tipo de fonte seria, até para a economia portuguesa, muito vantajoso.

Recordando um relatório da Rede Eléctrica Nacional que preconiza a construção de centrais a carvão ou a gás natural em território nacional, o engenheiro explicou que aquele tipo de fontes energéticas levanta actualmente “grandes problemas” ao nosso país (em virtude de pressupor um aumento das emissões de dióxido de carbono que a ratificação do Protocolo de Quioto não viabiliza), defendendo que impõe-se “fazer contas” e aferir os proveitos de qualquer das opções que possa vir a ser tomada. Mira Amaral reconheceu que, na altura em que estava no Governo, seria “marginalmente mais barato” optar pelas energias renováveis, mas explicou que “é um mito pensar-se que a solução está nas energias renováveis, porque elas não vão, por si, resolver as necessidades energéticas do País”.

Num debate dinamizado de acordo com o estilo «prós e contras», em que só um dos intervenientes – Francisco Ferreira, da Quercus – tentava fazer ouvir a voz dissonante e desequilibrar a balança, depondo contra o recurso à energia nuclear, também Pedro Sampaio Nunes, que coordena o projecto de construção de uma central em Portugal, fez eco das palavras do ex-governante do PSD, assumindo a sua condição de vide-presidente do CDS para lembrar que também os democratas-cristãos têm mostrado grande empenho na discussão da possível introdução do nuclear no nosso país.

Foi puxando de gráficos e números vários que Sampaio Nunes sustentou a ideia de que este é “um debate fundamental”, numa altura em que se sabe que “o petróleo pode acabar dentro de apenas algumas décadas. Sem conseguir passar ao lado de Chernobyl, o ex-secretário de Estado da Ciência foi peremptório na afirmação de que, embora com boas intenções, os aficcionados do Protocolo de Quioto conduziram Portugal a um “engano”, materializado num “apostar tudo nas energias renováveis” que, segundo Sampaio Nunes, “vai levar o País a um precipício”.

Reiterando que a grande prioridade neste momento deverá ser a eficiência energética, o consultor desmistificou a ideia de que é nos transportes que está a razão do problema (garantiu que a tendência para a supremacia do automóvel particular em relação aos transportes públicos não é intrinsecamente nacional, mas antes comum à escala europeia e mundial), defendeu que é nessa área que as energias renováveis devem fazer a sua aposta. Sampaio Nunes explicou depois que “cerca de 50 por cento do problema energético português reside no baixo grau de eficiência verificado na utilização dos recursos”, e garantiu que os transportes representam apenas 25 por cento do problema, que é comum à generalidade dos países desenvolvidos da Europa e do mundo.

Referendo também não é consensual
Tal como Mira Amaral, também Sampaio Nunes é um apologista da realização de um referendo, medida que Francisco Ferreira rejeitou liminarmente no debate realizado no Sheraton anteontem à noite. O activista da Quercus, que viajou expressamente de Bruxelas para estar presente no debate (circunstância que ditou um adiamento de uma hora o início dos trabalhos), decalcou tomadas de posição da associação ambientalista, ao lembrar os riscos associados ao nuclear e a “irredutibilidade” de um acidente como o de Abril de 1986 em Chernobyl, na actual Ucrânia, frisando que o secretismo em torno destas questões não pode ser sintomático de boas práticas.

Francisco Ferreira enfatizou que não são apenas os custos ambientais a deitar por terra a viabilidade da opção pelo nuclear, salientando que há também implicações sociais, e que nem mesmo os custos económicos sustentam a medida. O activista apontou quatro razões para dizer “não”: os custos de construção das centrais, os riscos de acidentes e as suas consequências, a falta de solução para os resíduos radioactivos resultantes da sua laboração e o facto de elas serem, segundo estudos recentes, alvos preferenciais de atentados terroristas.

A Quercus entende também que o agendamento de um referendo não é, para já, uma prioridade, visto que os alegados benefícios do nuclear não foram ainda devidamente comprovados. O debate foi mediado pelo ex-ministro da Agricultura Arlindo Cunha, que explanou as razões para a sua realização, dizendo que, quando que o petróleo atinge preços recordistas e se aproxima da sua extinção, no prazo de poucas décadas, “é urgente conhecer as alternativas, entre as quais figura a energia nuclear, que muitos países seguem, mas que o nosso nunca seguiu”.
(Por Carla Teixeira, Primeiro de Janeiro, 14/07/2006)

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