Rússia e EUA defendem a facilitação de uma expansão segura da energia nuclear em todo o mundo
2006-07-15
A Rússia e os Estados Unidos estabeleceram hoje (15/07) uma iniciativa para "combater o terrorismo nuclear" e propuseram que todos os países possam ter acesso ao uso pacífico da energia atômica, no entanto os dois países não chegaram a um acordo sobre o ingresso da Rússia na Organização Mundial do Comércio (OMC).
Em reunião bilateral prévia à cúpula dos países do G8 - os sete países mais desenvolvidos do mundo e a Rússia - iniciada hoje, os presidentes da Rússia, Vladimir Putin, e dos Estados Unidos, George W. Bush, afirmaram que a "cooperação na energia nuclear civil está de acordo com os interesses estratégicos das duas partes".
A declaração conjunta destaca a necessidade de "controlar, assegurar e proteger fisicamente o material nuclear e as demais substâncias radioativas, assim como suas instalações". Os dois líderes ressaltaram a importância de "detectar e suprimir o tráfico e outras atividades ilegais", além de estabelecer uma cooperação civil em matéria de energia nuclear, o que é de interesse estratégico das duas partes.
A Rússia e os Estados Unidos desejam que as nações que precisam de energia nuclear "possam se beneficiar dela sem ter que recorrer ao urânio enriquecido ou ao reprocessamento de combustível usado" e defenderam a "facilitação de uma expansão segura da energia nuclear em todo o mundo", desde que sob a vigilância da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).
A iniciativa foi tomada em meio às crises nucleares do Irã e da Coréia do Norte e do desejo da comunidade internacional de que estes países abandonem qualquer tipo de pesquisa que possa ser utilizada com objetivos que não sejam civis. Na entrevista coletiva posterior ao encontro, George W. Bush e Vladimir Putin apresentaram como exemplo de colaboração nuclear a proposta feita ao Irã pela Rússia, que ofereceu seu território para Teerã enriquecer urânio e reciclar combustível.
"Buscamos formas de não apenas controlar determinados processos, mas também de dar aos países o direito legal ao uso da energia nuclear", declarou Vladimir Putin. O chefe da Agência Atômica russa (Rosatom), Serguei Kirienko, anunciou hoje que seu país construirá o primeiro centro internacional de enriquecimento de urânio para usinas nucleares na cidade siberiana de Angarsk, próxima ao lago Baikal.
Sobre a crise no Líbano, que desponta como o grande assunto da cúpula, Bush e Putin expressaram suas divergências. Os dois governantes deixaram clara sua "preocupação" com relação à violência e às mortes, que já chegam a quase 100 desde que o Hisbolá seqüestrou, há três dias, dois soldados israelenses, e Israel respondeu este ato com bombardeios sobre o Líbano.
Bush afirmou que a responsabilidade pela violência recai sobre o Hisbolá, que "lançou ataques de foguetes a partir do solo libanês contra Israel e capturou dois soldados". O líder americano pediu à Síria, país que acusa de proteger a milícia xiita libanesa, que "exerça sua influência" para que o Hisbolá renuncie às armas. Entretanto, o presidente russo se mostrou mais crítico com relação à resposta israelense.
Putin concordou com Bush que é "inaceitável" que o Hisbolá "tente alcançar objetivos políticos através da violência, atacando um Estado a partir do território de outro país e, neste sentido, as preocupações de Israel são justificáveis". Porém, ele afirmou que "o uso da força deveria ser equilibrado e que o derramamento de sangue deve acabar imediatamente".
Outro ponto de divergência entre os dois países foi sobre a entrada da Rússia na Organização Mundial do Comércio (OMC), assunto sobre o qual não houve um pleno acordo. Putin desejava que o acordo fosse assinado antes do início da reunião anual do G8, encerrando com quase dez anos de negociações russas para ingressar na OMC. Herman Greff, ministro de Economia da Rússia, e Susan Schwab, representante de Comércio Exterior dos EUA, concordaram, no entanto, que os dois países podem chegar a um acordo em outubro.
O ministro russo disse em entrevista coletiva que restavam apenas alguns pontos a serem acertados, ressaltando, no entanto, que são "questões fundamentais sobre as quais nenhuma das partes quer ceder". Em entrevista coletiva paralela, Schwab disse que "foram obtidos enormes progressos nos dois últimos dias e estão praticamente fechados os capítulos de serviços e indústria".
Sobre os direitos de propriedade intelectual - um dos empecilhos na negociação -, a alta-funcionária americana indicou que também foram obtidos alguns avanços, assim como sobre questões agrícolas. Segundo Schwab, as "grandes exceções" são os processos sanitários e ambientais, cujas negociações poderiam permitiriam o aumento das exportações agrícolas e de gado dos Estados Unidos para a Rússia.
(EFE, 15/07/2006)
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