Redução de poluentes não tem impactos sobre aquecimento global
2006-07-14
A redução de emissões de gases poluentes por veículos anunciada na terça-feira (11/07) pelo governo é muito positiva para diminuir o impacto na saúde da população, mas seu efeito é praticamente nulo quando se trata de aquecimento global. A análise é do meteorologista Carlos Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), um dos revisores do Inventário Brasileiro de Gases do Efeito Estufa.
“Não fossem as inovações tecnológicas, incorporadas pelos veículos e o aumento do percentual de álcool na gasolina, o ar em São Paulo, por exemplo, seria hoje irrespirável e a cidade viveria em estado de emergência no inverno”, aponta Nobre. “Mas do ponto de vista do aquecimento global, não muda nada”.
Segundo dados do Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores, divulgados na terça-feira elo Ministério do Meio Ambiente, entre 1986 e 2006 a redução da emissão de monóxido de carbono por automóveis chegou a 99%. Em veículos pesados foi de 79%. Essa queda, de acordo com o governo, reduziu em 50% o número de doenças relacionadas à poluição na região metropolitana de São Paulo.
Emissão de CO2 só fez aumentar
O monóxido de carbono, entretanto, não é um dos gases que contribuem de fato para o efeito estufa. O maior vilão do aquecimento global é o CO2, o dióxido de carbono, que é produzido sempre que se queima combustível fóssil. O uso de álcool na gasolina, como aponta Nobre, ajuda a reduzir a emissão de CO2, mas nos últimos 20 anos a frota de automóveis do país aumentou consideravelmente.
“A grosso modo, o consumo de petróleo no país hoje é de dois milhões de barris por dia. Há 20 anos era a metade”, diz Nobre. “Não tenho dúvidas de que hoje emitimos mais CO2 do que há duas décadas. É claro, no entanto, que se não fosse o álcool misturado à gasolina estaríamos emitindo de 11 a 15 milhões de toneladas de CO2 a mais por ano”.
Segundo o inventário sobre as emissões de gases do efeito estufa divulgado no fim de 2004, o desmatamento é responsável por 75% das emissões dos poluentes que contribuem para o aquecimento global. A queima de combustíveis fósseis, por veículo de indústria, responde por 25% (80 milhões de toneladas por ano).
(O Globo, 13/07/2006)