Estudo mostra que o uso do solo nos últimos séculos afetou até 68% da superfície terrestre
2006-07-14
Em um artigo publicado na edição deste mês da Global Change Biology, os cientistas da Universidade de New Hampshire George Hurtt, Steve Frolking, e co-autores mostram que as atividades de uso do solo durante os últimos 300 anos alteraram substancialmente a superfície terrestre, de maneira que provavelmente tiveram profundos efeitos no planeta. As mudanças do uso do solo afetaram entre 42% e 68% da superfície terrestre, de acordo com o estudo, que utilizou registros históricos, dados de satélites, e simulações de computador para fazer 216 diferentes reconstruções de uso do solo global e obter o mais abrangente quadro atualizado.
"Essa é a primeira descrição da história do uso do solo global que é projetada especificamente para permitir que os modelos teóricos da influência do carbono no clima avaliem os impactos do uso do solo nas fontes e coletores de carbono e clima do passado e atuais", disse Hurtt, professor assistente de recursos naturais no Instituto da UNH para o Estudo da Terra, Oceanos e Espaço (EOS).
De acordo com Hurtt, esses dados do uso global do solo vão permitir que a próxima geração de modelos teóricos da influência do carbono no clima, conhecidos como modelos do sistema da Terra, inclua as mais avançadas representações das práticas de uso do solo até agora, incluindo as primeiras estimativas mapeadas dos efeitos da agricultura migratória, desflorestamento e terras de recuperação secundária.
"As atividades de uso do solo são conhecidas por ter acrescentado grandes quantidades de dióxido de carbono na atmosfera, alterado a reflexão de luz pela superfície e levado à alteração e destruição do hábitat", disse Hurtt. "Um dos principais desafios para os cientistas agora é entender os efeitos combinados dessas atividades na dinâmica do sistema carbono-clima. Esse estudo fornece uma base para essas avaliações".
O histórico do uso do solo é essencial para entender a dinâmica do sistema carbono-clima, não apenas por razões técnicas mas também por razões de política. Um dos grandes debates na hora de formular novas políticas é em que extensão os coletores de carbono nos ecossistemas seriam capazes de compensar as emissões de carbono. "É importante saber se um coletor de carbono em um ecossistema, hoje, é simplesmente o resultado de uma recuperação sobre uma redução no passado, ou uma alternativa armazenagem de carbono a longo prazo" explicou Hurtt.
Além disso, segundo ele, sem essa análise histórica das atividades de uso do solo, mesmo os modelos mais sofisticados seriam inexatos. "Mesmo que você não ligasse para o passado e quisesse se concentrar nas mudanças ambientais futuras, você primeiro teria que inicializar seu modelo para o estado atual do planeta. Já que o estado atual tem sido alterado por um histórico de atividades de uso do solo ao redor de quase todo o planeta, o conhecimento histórico das atividades aumenta o conhecimento das condições atuais", afirmou Hurtt.
(Estadão, 13/07/2006)
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