A recente onda de investimento da indústria brasileira de papel e celulose tem modificado a face do setor. As companhias estão se transformando muito mais em produtoras de celulose do que fabricantes de papel. A produção da Suzano, que investe US$ 1,3 bilhão numa nova linha na Bahia, será de 60% de celulose e 40% de papel em 2009.
Em 2005, essa relação foi de 39% (celulose) e 61% (papel). "O investimento colocará a empresa numa outra posição, com uma escala global", disse o diretor da unidade de celulose da Suzano, Rogério Ziviani. A fabricante controlada pela família Feffer espera tornar-se a segunda maior produtora de celulose de eucalipto, atrás apenas da Aracruz, cujo foco é apenas a matéria-prima, e não papel.
A Votorantim Celulose e Papel (VCP) planeja produzir 4 milhões de toneladas de celulose em 2020, o dobro do que espera produzir de papel. Em 2005, o grupo Votorantim produziu 700 mil toneladas de celulose de mercado e 600 mil em papel. Mas a empresa poderá antecipar a meta se levar a cargo o projeto de celulose que negocia com a International Paper (IP) em Três Lagoas e seu projeto de expansão no Rio Grande do Sul.
Até meados dos anos 90, a produção brasileira de celulose ficava praticamente equilibrada com a de papel. Essa realidade começou a mudar nos últimos dois anos com a ampliação cada vez maior da oferta de matéria-prima. Em 2004, produziu-se 8,4 milhões de toneladas de papel e 9,6 milhões de toneladas de celulose, segundo dados da Bracelpa, entidade que reúne os fabricantes.
A tendência é que a diferença fique maior. Até 2009, está prevista a oferta adicional de pelo menos 2 milhões de toneladas de celulose ao passo que a nova produção de papel ficará em pouco mais do que 500 mil toneladas, segundo estimativas de algumas consultorias. As fabricantes brasileiras têm tirado vantagem dos custos mais baixos para produzir mais celulose. Segundo dados da consultoria Hawkins Writght, o custo caixa para produção de celulose de eucalipto ficou em US$ 246 por tonelada no Brasil, um dos mais baixos do mundo.
A América Latina é uma das regiões que menos consome sua produção local de celulose, apenas 13% do total comparado com América do Norte (42%) ou Europa (83%), o que cria excedentes para exportação. A maioria dos investimentos feitos em fábricas de papel no Brasil tem destino o mercado doméstico, e qualquer expansão de produção está condicionada à fatores como aumento de renda da população. "O investimento depende do tamanho do mercado interno", diz o analista Edmo Chagas, do UBS.
Outro analista, que prefere não se identificar, acrescenta: "Como são investimentos intensivos em capital, acima de US$ 500 milhões, e não se fala em máquinas de papel com capacidade menor do que 500 mil toneladas para se ter competitividade, é difícil ter retorno rápido no mercado interno. Ninguém quer perder dinheiro." O lento retorno sobre o investimento tem dificultado o surgimento de novos projetos para ampliação da oferta de papel.
A Klabin é a única grande produtora que investe - US$ 1,5 bilhão - em uma nova máquina de papel, a primeira a ser instalada no Brasil desde 1992. No entanto, a intenção da fabricante é utilizá-la prioritariamente para produção de papel-cartão usado em embalagens para exportação. A Norske Skog tem um projeto para uma segunda fábrica de papel de imprensa no Paraná - a importação deste tipo de papel equivale a dois terços do consumo nacional.
Mas a empresa tem alegado os altos custos tributários para adiar o investimento. As dificuldades do mercado de papel têm levado as empresas que atuam nos dois segmentos a pensarem em fórmulas alternativas para manter seus negócios. A Votorantim tem estudado até a possibilidade de separar sua unidade de papel da de celulose, de modo a evitar que os resultados do mercado interno afetem os bons ganhos que a empresa vem auferindo no exterior.
(
Manejo Florestal.org, 12/07/2006)