A possível instalação do Autódromo Internacional de Passo Fundo em uma área próximo ao
Parque da Efrica está dividindo opiniões. De um lado os ecologistas afirmam que o local
traria danos ambientais irreparáveis por estar próximo à nascentes do arroio Miranda e do
Rio Passo Fundo. De outro, técnicos, empreendedores e o Poder Público, garantem que o
impacto aconteceria em qualquer local onde a instalação ocorresse e que a área escolhida é
viável por já possuir infra-estrutura no seu entorno. Os empreendedores, que pretendem
instalar o autódromo, encaminharam na última semana, a primeira providência exigida pela
Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam), buscando a licença prévia. No total são
três licenças para que o empreendimento seja efetivado: a prévia, licença de instalação e
a de operação. Neste primeiro documento está contemplado o pedido de instalação e as razões
pelas quais ela deve ocorrer, além de análises técnicas que apontam a viabilidade do
projeto. O encaminhamento foi possível graças a aprovação do projeto pelo Conselho
Municipal do Meio Ambiente, ocorrida no dia 4 de julho.
Grupos ecológicos
O integrante do Grupo Ecológico Guardiões da Vida, Clóvis Alves, conta que o grupo está
insatisfeito com a aprovação. Clóvis afirmou que na reunião, o direito ao contraponto foi
negado às entidades ambientalistas, o que trouxe indignação. “Além disso, não houve
formação de uma comissão técnica que avaliasse a proposta do autódromo naquela área”,
disse. Paulo Fernando Cornélio, do Grupo Ecológico Sentinela dos Pampas, disse que as
organizações estão trabalhando nesta questão não são contrárias à instalação do autódromo,
mas questionam a área pretendida. “Estamos buscando demonstrar que este local, é técnica e
cientificamente inadequado, por sua riqueza ambiental. Além disso, nos colocamos à
disposição e apresentamos ao prefeito um grupo de trabalho formado por diversos segmentos
que pretendem apontar um outro local para o empreendimento. As entidades continuarão
lutando para que o local seja considerado área de preservação permanente e reserva
ambiental, para que o abastecimento público de Passo Fundo na atual e nas próximas gerações
não seja prejudicado”, disse. Os ambientalistas acrescentam que a área possui grande
fragilidade hidrológica, o que no futuro pode influenciar na quantidade e qualidade da
água que abastece a cidade. Paulo Fernando destaca também que se o empreendimento for
construído, não haverá como impedir o processo de urbanização no entorno nas nascentes, o
que causaria danos irreparáveis às nascentes.
Projeto é legal
O responsável técnico do empreendimento, o geólogo, especialista em técnica ambiental e
mestre em ecologia ambiental, Luiz Paulo Fragomeni, afirma que a instalação é
ambientalmente legalmente e correta. “No Brasil temos uma das legislações mais rígidas do
mundo em relação ao meio ambiente, que exige inúmeras regulações antes de qualquer início
de obras. A construção do autódromo está de acordo com esta lei e com as exigências de
órgãos ambientais, como Conama, código florestal, Consema”, ressaltou. Segundo ele, a
localização é adequada porque irá aproveitar uma infra-estrutura existente, como o Parque
da Efrica e o prédio da Ceasa, que está sendo depredado. “Se ele for instalado em
qualquer outro local vai ter que implantar uma infra-estrutura semelhante. Se colocar em
outra bacia hidrográfica também terá impacto sobre as populações que vivem abaixo e se
abastecem daquelas águas”, disse. Ele afirma que a obra não trará dano ambiental, é
ambientalmente correta, principalmente pela situação privilegiada. Luiz Paulo diz que a
instalação proporcionará maior qualidade à área. “Com o empreendimento, além de respeitar
os limites de, no mínimo, 50m das nascentes e banhados, que são de preservação permanente,
será feita reconstituição vegetal, com plantação de árvores nativas e tratamento de
fluentes, o que irá proporcionar ganho ambiental”, disse.
Poder Público
A secretária municipal do meio ambiente e presidente do Conselho Municipal do Meio
Ambiente, Tânia Cogo, acredita que a obra é importante para o desenvolvimento de Passo
Fundo, pela geração de emprego e renda. “A Associação Pró-autódromo terá que fazer tudo
que a Fepam exige para que o meio ambiente seja preservado. Os prejuízos ambientais serão
ressarcidos. Acreditamos que se ele fosse instalado em outro local causaria ainda mais
danos”, disse a secretária. Ela explicou que a Fepam solicitou apenas manifestação do
poder público e entidades sobre o projeto e nenhum estudo de impacto ambiental. “Teremos
que seguir as normas para que tudo aconteça sem prejuízos à comunidade. Temos ciência que
os ecologistas não são contra o empreendimento, são apenas contrários ao local, é apenas
uma divergência de idéias”, destacou.
A área pretendida para o autódromo está localizada ao lado do Parque da Efrica, num total
de 42 hectares e abrange as duas principais nascentes que abastecem a população de Passo
Fundo, estando há 700 m da barragem da Corsan.
Pró-autódromo
O presidente da Associação Pró-autódromo, Hugo Vargas Filho, destaca que a aprovação do
projeto pelo Conselho do Meio Ambiente gerou grande expectativa. “Tivemos aprovação
dentro do fórum adequado, que é o Conselho do Meio Ambiente, que possui múltiplos
segmentos representados e está mais próximo à realidade ambiental da cidade. Acreditamos
que haverá grande análise por parte da Fepam e esperamos um parecer favorável ao
empreendimento”, salientou. Ele afirma que a legislação do meio ambiente será seguida
rigidamente para a realização da obra, que é considerada de porte médio.
(
Diário da Manhã, 12/07/2006)