O governo do Reino Unido deu sinal verde, no início desta semana, à construção de novas plantas nucleares, reacendendo a batalha com ambientalistas, mas, ao mesmo tempo, levantando a questão de apontarem-se medidas para o uso de energias renováveis. A conclusão da revisão sobre as fontes energéticas representa um retorno, pois, há apenas três anos, o próprio governo deixava para trás a opção nuclear.
O secretário de comércio e indústria, Alistair Darling, anunciou tais conclusões, constantes num relatório de 216 páginas, na Câmara dos Comuns, afirmando que a energia nuclear traz "significativa contribuição" ao corte de emissões de carbono. Mas ele requereu que o setor privado tenha claros os custos dessas construções e gerencie questões como o final do ciclo de vida das plantas nucleares, bem como a questão dos resíduos.
Questionado por membros céticos do Partido Trabalhista, Darling recusou-se a dar explicações sobre o que significaria a “completa divisão” de custos possíveis, dizendo apenas que se trata de algo “auto-evidente”.
O primeiro-ministro Tony Blair não estava presente à Câmara para ouvir a declaração, embora tenha visitado no mesmo dia uma nova geração de usinas nucleares no seu roteiro para o parque eólico de Kent. Falando a bordo de um navio pesqueiro, Blair disse: "Estamos prestes a ficar numa situação de importadores de energia. Temos que, pelo menos, substituir nossas estações nucleares. Essas decisões devem ser adotadas agora. Senão, daqui a 15 anos, teremos preços com os altos custos da energia e problemas reais”.
Na mesma reunião, foram mostradas medidas para reduzir a demanda por eletricidade, tais como retirar de circulação bens cuja produção não seja energeticamente eficiente e limitar a quantidade de tempo em que televisores e outros produtos eletroeletrônicos podem ficar em standby.
Conforme Darling, as medidas propostas têm como meta a redução entre 19 milhões e 25 milhões de toneladas de carbono até 2020, acima das medidas já anunciadas na revisão do programa de mudanças climáticas.
O secretário disse: "Enquanto cai a produção de gás e petróleo no Mar do Norte, nossa dependência de importação de petróleo aumenta. Nossas previsões sugerem que, nos próximos 20 anos, até um terço de nossa capacidade existente de geração energética vai chegar ao final de sua vida."
Darling acrescentou que este é um momento "crítico" para se fazerem escolhas que irão salvaguardar os suprimentos de energia para os próximos 30 a 40 anos. Ele insistiu que a energia deve ser conservada em lares, negócios e em ambientes do setor governamental. Apelou para as pessoas reduzirem seus gastos com energia, cancelando o uso de aparelhos ineficientes. Anunciou que haverá incentivos para supermercados, cadeias de hotéis e outras grandes organizações reduzirem suas emissões de carbono.
De acordo com o secretário, o governo planejava aumentar em 20% a energia proveniente de fontes renováveis, um aumento de cinco vezes sobre os atuais níveis. Contuso, esse compromisso parece meramente uma reiteração do que foi acordado em 2003 com firmas de energia, sobre a obrigação de geração a partir de fontes renováveis, numa faixa de 10% até 2010 e de 20% até 2020.
Conforme Darling, a energia nuclear contribui com um quinto da geração elétrica do reino Unido, mas havia planos de que tal participação caísse para apenas 6% até 2020.
(Por Matthew Tempest,
The Guardian, 11/07/2006)