Poluição na baía de Vitória muda sexo de mexilhões e ostras
2006-07-13
A poluição da baía de Vitória está mudando o sexo de fêmeas de mexilhões e ostras, síndrome conhecida como imposex. A constatação é de pesquisa em desenvolvimento que mostrou a contaminação dos animais com tintas antiincrustantes, que são à base de organoestânicos. Estas tintas são usadas em embarcações, plataformas, e outros para evitar a fixação dos organismos.
A pesquisa sobre o imposex nos gastrópodes marinhos da baía de Vitória está sendo realizada em parceria pelo professor doutor Marcos Fernandez, do Departamento de Oceanografia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e pela professora Mércia Barcellos da Costa, responsável pelo Laboratório de Malacologia do Departamento de Ciências Biológicas da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).
Segundo explicou a professora Mércia Costa, "imposex é uma síndrome observada em gastrópodes marinhos, onde as fêmeas desenvolvem caracteres sexuais masculinos (pênis e vaso deferente), comprometendo a reprodução desses animais e, claro, da espécie".
A pesquisa sobre os organoestânicos no Espírito Santo está sendo realizada desde janeiro de 2006. Os resultados observados já foram apresentados no IX Congresso Brasileiro de Ecotoxicologia, realizado este mês em São Paulo.
O professor Marcos Fernandez é considerado um dos maiores especialistas do país no assunto. Sobre sua pesquisa, informou que as espécies afetadas pelos organoestânicos no Espírito Santo são "até onde sabemos, a Thais (Stramonita) haemastoma, Thais rustica, Thais deltoidea e Leucozonia nassa".
Assinalou que o nível de contaminação por organoestânicos na região de Vitória é "razoavelmente alto". Os contaminantes são "compostos orgânicos de estanho, como o TBT (tributilestanho) e o TPT (trifenilestanho)".
A ingestão dos animais contaminados pelo agente afeta em que grau a saúde humana? Marcos Fernandez diz: "Ninguém tem conhecimento preciso sobre isso. Existem evidências de problemas de desregulação endócrina e imunológicos, mas não existe ainda uma certeza deste tipo de efeitos. A questão está em estudos".
Os peixes podem ser contaminados por orgânoestânicos? "Sim, mas o problema maior certamente é com animais filtradores, como mexilhões e ostras. Não temos dados no Brasil sobre peixes, mas temos alguma coisa sobre mexilhões".
No Brasil, o tema é de competência principalmente do Ministério do Meio Ambiente (MMA), através do Grupo de Gerenciamento Costeiro, o Gerco. O MMA já foi alertado sobre o problema desde 2004.
Marco Fernandez informou que a pesquisa continua "em várias partes do país e em diversas linhas de ação".
(Por Ubervalter Coimbra, Século Diário - ES, 12/07/2006)
http://www.seculodiario.com.br/arquivo/2006/julho/12/noticiario/meio_ambiente/12_07_06.asp