Aposta em biodiesel no semi-árido
2006-07-13
O grupo português HLC, que atua no ramo de produção de biodiesel na Europa, está investindo R$ 88,5 milhões na implantação de uma unidade na região do semi-árido nordestino, segundo o empresário e prefeito do município de Petrolina, a 722 quilômetros do Recife, Fernando Bezerra Coelho.
De acordo com ele, os recursos serão empregados na compra da antiga Indústria Nordestina de Óleos Vegetais (Inove) e na modernização da empresa, hoje arrendada à Caramuru e voltada para a produção de óleo de cozinha.
"Deste total, R$ 18,5 milhões referem-se à compra da fábrica. O restante do investimento será aplicado em capital de giro e no aumento da capacidade instalada de processamento de mamona, que hoje é de 50 mil toneladas anuais, para 100 mil toneladas por ano. Já o setor de esmagamento de soja terá sua capacidade ampliada de 100 mil para 300 mil toneladas por ano", afirma.
Coelho, cuja família era proprietária da fábrica adquirida pela HLC, adianta que o grupo português está constituindo uma nova empresa em substituição à Inove. Esta nova empresa, que se chamará Biodiesel do Vale do São Francisco (Biovasf), deverá começar a receber os primeiros investimentos em modernização do próximo mês de agosto até o final de 2007. Nesse intervalo, diz ele, a HLC deverá ampliar gradativamente a capacidade de produção e começar a viabilizar o empreendimento.
Coelho adianta, ainda, que a maior parte da produção de óleo de soja deverá ser remetida à Europa, de maneira a atender as necessidades de suprimentos das bases européias do grupo para uma posterior transformação em biodiesel. O biodiesel de soja não tem restrições para ingressar na Europa em razão de sua viscosidade, diferentemente do originário da mamona, com utilização restrita a alguns produtos, como combustível para foguetes.
"O contrato com a Caramuru vence no fim deste ano, quando os portugueses assumirão o controle da indústria. Pelo projeto da HLC, aos poucos a produção de biodiesel de mamona deverá ser substituída pela de pinhão manso. As técnicas desenvolvidas pelo Centro de Pesquisas do Trópico Semi-árido [CPATSA], da Embrapa, são voltadas para a produção de pinhão no semi-árido nordestino". As pesquisas desenvolvidas pela Embrapa apontam que o pinhão manso pode alcançar uma produtividade de até 10 toneladas por hectare caso seja cultivado com irrigação, e de 4 toneladas em áreas de sequeiro, sem irrigação.
Só na microrregião de Petrolina há 20 mil hectares em áreas de sequeiro que podem ser ocupados com pinhão manso. Enquanto a cultura não se desenvolve, o grupo lusitano deverá processar óleo de mamona paralelamente ao de soja. A mamona deverá vir da região de Irecê (BA), a cerca de 250 quilômetros da unidade industrial.
O grupo HLC começou a operar no Brasil no fim de 2005, depois de adquirir os ativos da SIF, subsidiária da francesa EDF. Os lusos também planejam investir na produção de energia eólica no Ceará
O repórter viajou a convite do governo do Estado de Pernambuco.
(Por Paulo Emílio, Valor Online, 12/07/2006)
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