Incêndio no Parque de los Nevados, na Colômbia, é controlado
2006-07-12
O fogo que em seis dias arrasou com cerca de sete mil hectares do Parque Nacional de los Nevados, do centro para o oeste da Colômbia, foi finalmente controlado na terça-feira (12/07), informou o Ministério de Meio Ambiente, Habitação e Desenvolvimento Territorial. “Controle não significa necessariamente extinção, por isso será mantida vigilância na região por mais 48 horas”, disse à IPS Juan Manuel Osório, diretor de Socorro da Cruz Vermelha na área do desastre. As autoridades indicaram que manterão um posto de controle na localidade de Potosí, departamento de Tolima, como medida preventiva. “Devido às características do terreno, o calor acumulado no subsolo poderia reaparecer. Isto ocorre, inclusive, sem que na superfície se note algum sinal, como fumaça”, acrescentaram porta-vozes.
Com área de 58,3 mil hectares, o Parque Nacional de los Nevados fica na cordilheira central colombiana, em território dos departamentos de Caldas, Quindío, Risaralda e Tolima, a oeste da capital do país. É formado pelos montes nevados Del Ruiz, de 5,3 mil metros acima do nível do mar; Tolima, de 5,2 mil metros; Santa Isabel, de 4.950 metros; Cisne, de 4,8 mil metros; Quindío, também de 4,8 mil metros; a Cascada de Gualí, a 4 mil metros; Lagoa do Otún, a 3,9 mil metros acima do nível do mar, e uma pequena geleira conhecida como Laguna Verde.
O Parque recebe espécies em extinção no país, como ursos de óculos, antas andinas (tapires), veados e pumas de montanha, e a flora é composta especialmente por pastagense arbustos (frailejones)¸ “que em termos correntes poderiam ser definidos como amortecedores que sustentam o ecossistema”, explicou Osório. A recuperação vegetal é calculada entre 50 e 200 anos, “porque é uma zona que não tem atividade sucessional alta. Isto é, “a natureza não se expressa rapidamente”, afirmou Carlos Gómez, diretor da CAR-Quindío (Corporação Autônoma Regional), entidade pública responsável pela proteção do meio ambiente.
Quanto à fauna, afirma-se que a situação é bastante grave porque a maioria está em via de extinção, e diante do desequilíbrio ecológico limitará o espaço vital dos animais, afetando sua cadeia alimentícia, com os problemas que isto gera. No Parque de los Nevados nascem os afluentes que proporcionam água para mais de dois milhões de pessoas, que moram nas cidades do eixo cafeeiro, entre elas Pereira, Armenia, Manizales e Ibagué. Por causas ainda não conhecidas, o incêndio começou na última quinta-feira nas proximidades da Lagoa do Otún, seguindo em quatro frentes, concluindo na terça-feira o quarto, localizado no cânion do monte nevado de Santa Isabel, considerado o mais difícil por ser uma zona agreste.
“Estabelecer as causas é muito complexo. Esta é uma região turística, habitada nas partes baixas por camponeses. Além da presença de pessoas, existem no lugar muitos elementos naturais de calor não controlado, favorecidos pela temporada seca, acompanhada de ventos muito fortes”, disse Osório. Ventos que “nos foram favoráveis, pois encontraram uma zona rochosa que favorece a ação dos homens que trabalhavam em diferentes pontos. Se o vento tivesse se desviado, a floresta de páramo correria perigo”, garantiu o diretor da CAR.
Na ação de combate ao fogo participaram mais de mil homens, entre socorristas da Cruz Vermelha, Defesa Civil e bombeiros profissionais ou voluntários, que contaram com elementos como bate-fogo, paus, rastilhos, bombas de costas e motobombas, com os quais contava a Cruz Vermelha regional Caldas. “Mas eram ferramentas insuficientes para a magnitude do incêndio”, alertou o chefe dos socorristas. “Foi muito difícil. Inclusive, consultamos os canadenses, que consideraram muito complexo controlar o fogo. Foi avaliada a possibilidade de utilizar aviões ou helicópteros, porém nenhum era suficiente. Para que fosse efetivo seriam necessários, pelo menos, 600 galões (cerca de 2,3 mil litros) de água, e nenhum helicóptero podia transportar essa quantidade com ventos de 80 nós”, acrescentou.
Além disso, o pessoal tinha de ser substituído a cada quatro horas por causa do chamado “mal de altura”. Nestas condições, se destacou a participação de bombeiros indígenas voluntários, mais acostumados às zonas altas e a baixas temperaturas. Nesta quinta-feira se reunirão o ministro do Meio Ambiente, Juan Lozano, os governadores e diretores da CAR dos departamentos de Caldas, Risaralda, Quindío e Tolima, para avaliar os danos ecológicos e estabelecer um plano com apoio da comunidade internacional.
Até o momento, se conta com o oferecimento da Holanda, através de seu embaixador na Colômbia, Frans Van Haren, “um dos mais importantes sócios na cooperação internacional em matéria de parques naturais, que nos expressou a disposição de seu país para dar ajuda na recuperação do parque, colocando-o dentro do programa atual de cooperação; buscar conhecimento científico e acelerar sua recuperação”, afirmou Lozano. Em comunicado divulgado pelo Ministério do Meio Ambiente. Van Haren disse que, “embora não se possa dizer que haja muita experiência, pois o Parque de los Nevados é único no mundo, o que se procura e juntar as experiências internacional e nacional para conseguir os melhores resultados”.
“Existem especialistas, não apenas na Holanda, mas neste país e em outros dos quais a Colômbia necessita para iniciar um plano de recuperação o mais rápido possível”, assegurou o embaixador holandês. A isto se soma a chamada “minga” (esforço comum) que já iniciamos, entre universidades, organizações ambientalistas, espontâneos amigos da conservação, as corporações regionais e o ministério, para conseguir minimizar o impacto”, afirmou o diretor da CAR em Quindío, Carlos Gómez.
Além disso, a Cruz Vermelha iniciará uma nova capacitação dos camponeses da região, a fim de treiná-los no combate a pequenos incêndios, evitando sua propagação, disse Osório. Assim conclui um triste capítulo de devastação, em uma região onde o último incêndio florestal aconteceu há apenas três anos. “Nessa ocasião conseguimos combater o fogo rapidamente”, contou Osório, para quem um incêndio nesta zona, mesmo a cada três anos, é muito, considerando o frio do meio ambiente, mas, em especial, a riqueza natural do lugar, sítio turístico para milhares de pessoas de todo o mundo.
(Por Helda Martinez, Envolverde, 12/07/2006)
http://www.envolverde.com.br/materia.php?cod=19632