Um planeta cada vez mais habitado e quente
2006-07-13
No começo do século 20, o número de habitantes do planeta era inferior a dois bilhões, e no alvorecer do século 21 já supera os seis bilhões. Estes números voltaram a ser analisados e a causar preocupação nesta terça-feira (12/07), Dia Mundial da População. Segundo o Escritório do Censo dos Estados Unidos, a população mundial atualmente é de 6.527.525.419 habitantes. A cada 14 anos, soma-se mais um bilhão de pessoas ao planeta, que, neste ritmo, terá 9,1 bilhões dentro de 50 anos. Além disso, segundo a organização Population Connection, com sede em Washington, mais da metade da população mundial viverá em cidades até 2007, “o que nos converterá, pela primeira vez, em espécies urbanas”.
Por outro lado, as emissões de gases causadores do efeito estufa, que contribuem para a mudança climática, também aumentaram significativamente desde o início do século 20. A maioria dos cientistas concorda que o aquecimento do planeta se deve às atividades humanas, sobretudo aos gases liberados pela combustão de petróleo, gás e carvão, sendo o dióxido de carbono o principal deles. Esses gases ficam acumulados na atmosfera e, por sua grande capacidade para reter o calor dos raios solares, acentuam o chamado efeito estufa.
“Temos de considerar toda a contribuição das atividades humanas e como se relaciona com as crescentes emissões de dióxido de carbono desde a industrialização”, disse o cientista Jay Gulledge, do Centro Pew sobre Mudança Climática. “Houve um aumento de 35% na concentração de dióxido de carbono na atmosfera desde os tempos prévios à industrialização”, acrescentou. O Protocolo de Kyoto que entrou em vigor em fevereiro impõe aos países industrializados que o assinaram e ratificaram a obrigação de reduzir suas emissões de gases a volumes 5,2% menores do que o índice de 1990,no prazo até 2012. As nações mais industrializadas consomem 60% dos combustíveis fósseis do planeta.
Enquanto a população aumenta, sobretudo nas áreas urbanas, também aumenta a demanda energética, o que significa que serão necessárias mais centrais de energia que emitirão gases que causam o efeito estufa. O crescimento populacional também segue de mãos dadas com o desmatamento, para a construção de cidades. Enquanto as florestas absorvem carbono, as árvores mortas e em estado de decomposição liberam esse elemento na atmosfera. “Um terço de todas as atuais emissões procede dos automóveis. As centrais de energia que queimam carvão e a indústria pesada também são responsáveis pelas emissões desses gases”, disse Gulledge.
“O crescimento populacional e o aquecimento da Terra estão definitivamente entrelaçados. Uma população maior significa um crescente uso de energia”, disse á IPS a diretora de pesquisa do Earth Policy Institute, Janet Larsen. Os Estados Unidos concentram 5% da população mundial, mas respondem por 25% de todas as emissões de gases causadores do efeito estufa, segundo a organização ambientalista Sierra Club. O presidente George W. Bush retirou a assinatura do Protocolo de Kyoto que seu antecessor, Bill Clinton (1993-2001) havia colocado, afirmando que poderia afetar a economia do país.
Washington também se queixa de que Índia e China, dois dos grandes emissores de gases que causam o efeito estufa, estão isentos dos requisitos do acordo. “O Protocolo de Kyoto foi projetado como um primeiro passo do que deve se converter em um esforço progressivo. Os casos da China e da Índia deverão ser tratados de uma forma significativa em próximas reuniões”, explicou Tim Herzog, pesquisador associado do Instituto Mundial de Recursos. Muitos afirmam que, por ser o país que mais libera gases causadores do efeito estufa, os Estados Unidos deveriam ser mais ativos na busca de soluções para a mudança climática.
“Os Estados Unidos consomem mais energia e liberam mais gases que levam ao efeito estufa do que nenhuma outra nação”, disse à IPS a diretora do Programa de Energia e Mudança Climática do Worldwatch Institute, Janet Sawin. “Se forem acrescentadas cem mil pessoas à população aqui (nos EUA) e cem mil pessoas em um país da África subsaariana, o efeito das emissões de gases causadores do efeito estufa será muito maior porque usamos mais energia por habitante”, acrescentou. Os efeitos combinados do aquecimento do planeta e do crescimento populacional parecem evidentes, apesar das opiniões de organismos como o Centro Nacional para Análise de Políticas (NCPA), dos Estados Unidos.
O NCPA publicou em outubro de 2005 um relatório assinalando que “os dados históricos e as atuais pesquisas sobre furacões não fornecem a evidência suficiente para vincular as atividades humanas com as mais freqüentes e poderosas tempestades”. Gulledge rechaçou essas afirmações. “Não falo em termos absolutos porque a ciência não é absoluta. Mas há evidência científica sólida de que o aquecimento planetário afeta os furacões, tornando-os mais intensos, em geral, e mais freqüentes no Atlântico norte”, afirmou. “O aquecimento do planeta causa a perda de geleiras, e cerca de dois bilhões de pessoas no mundo dependem delas para obter água”, acrescentou.
Por sua vez, o presidente da Population Connection, John Seager, disse que, freqüentemente, o debate sobre crescimento populacional e aquecimento da Terra ignora o tema fundamental do controle da natalidade. “A maioria das discussões sobre como manejar o crescimento populacional está dominada por discussões tecnológicas contra o planejamento familiar”, ressaltou. Segundo Seager, todas as pessoas deveriam estar em condições de controlar as decisões básicas de quando ter, ou não, filhos. Isto, a longo prazo, poderá deter o crescimento populacional e, eventualmente, seus efeitos no meio ambiente.
(Por Frizroy A. Sterling, Envolverde, 12/072006)
http://www.envolverde.com.br/materia.php?cod=19633