População argentina critica investimentos em celulose
2006-07-12
A confirmação de uma nova fábrica de celulose no Uruguai deve acirrar ainda mais a tensão entre os governos uruguaio e argentino, criada pela construção de duas fábricas das empresas de celulose Botnia (Finlândia) e Ence (Espanha) na cidade uruguaia de Fray Bentos, na fronteira com Gualeguaychú, na Argentina. Os argentinos pedem a suspensão das obras, alegando que as fábricas trariam danos ambientais para o rio Uruguai, que divide os dois países. Mesmo distante cerca de 150 quilômetros da fronteira, a nova fábrica também desagrada o governo argentino uma vez que o rio Negro desemboca no Rio Uruguai.
Para atrair investimentos no setor, o governo uruguaio vem oferecendo desoneração total de impostos por mais de 30 anos, conferindo status de zona franca às áreas onde as plantas serão instaladas. Enquanto os argentinos, incluindo o presidente Nestor Kirchner, alegam que as fábricas causarão um "apocalispe ambiental", os uruguaios argumentam que as fábricas não poluem (pois supostamente contam com tecnologia de ponta), além de sustentar que precisam dos investimentos das fábricas (cerca de US$ 2,8 bilhão, o equivalente a 20% do PIB uruguaio) para recuperar a economia do país.
A decisão de Vázquez também irritou os habitantes argentinos da fronteira, que ameaçam realizar novos protestos. Habitantes de Gualeguaychú reunidos em uma assembléia popular, realizaram entre dezembro e março piquetes em duas das três pontes que ligam os dois países. Amanhã, a Corte Internacional em Haia emitirá um parecer sobre a construção das fábricas de Fray Bentos. Em Buenos Aires, o governo está confiante de que o tribunal decidirá a suspensão das obras. Na contra-mão, em Montevidéu existe confiança de que o parecer – que não comtemplará apelos – será favorável ao Uruguai. O temor é de que um parecer a favor dos uruguaios exalte os argentinos, que voltariam aos piquetes.
(Jornal do Comércio, 12/07/2006)