Existe um consenso entre pesquisadores que estudam a poluição atmosférica de metrópoles como São Paulo. Para eles, o ozônio e o material particulado são os poluentes mais nocivos à saúde humana. Nos próximos meses, quando estiver certificado, um invento desenvolvido no Brasil poderá contribuir para que a emissão de pelo menos um desses contaminantes seja reduzida.
A tecnologia, desenvolvida pelo engenheiro paulista Sergio Varkala Sangiovani, pretende barrar, logo após a emissão feita pelos motores, as chamadas partículas inaláveis finas, que medem menos de 2,5 micrômetros (milionésima parte do metro) de diâmetro. Resultado de seis anos de trabalho, o filtro, para equipar ônibus, caminhões e até geradores, funciona apenas para o diesel.
O dispositivo também está regulado para aceitar a alta quantidade de enxofre que existe no diesel produzido no Brasil. O tipo de composição química desse combustível costuma inviabilizar a eficiência dos catalisadores convencionais.
O diesel é um dos grandes vilões da poluição atmosférica urbana. Por isso, além de filtros mais eficientes, sua produção com menor quantidade de enxofre, como ocorre em países como os Estados Unidos, é estratégia que também deve ser considerada, aconselham os especialistas – além do progressivo abandono dessa fonte energética.
Após realizar boa parte das pesquisas por conta própria, Sangiovani conseguiu recursos no exterior para viabilizar a invenção. Com a chegada do capital, foi instituída a Sabertec, empresa sediada no Texas, nos Estados Unidos, que comercializará o futuro produto no Brasil. A linha de produção, terceirizada, deverá funcionar em Diadema, onde o filtro foi testado em 2005 e depois doado à prefeitura local.
A redução na emissão de partículas inaláveis finas teria chegado aos 40% nos testes feitos até agora, disse Sangiovani na apresentação do Filtro de Impacto para Particulados Diesel (IDPF, na sigla em inglês), feita na capital paulista na terça-feira (11/07).
Testes em Interlagos
O ganho qualitativo obtido com o filtro foi detectado em testes feitos em parceria com o Laboratório de Poluição Atmosférica Experimental (LPAE) do Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). Todo o protocolo foi desenvolvido com ônibus convencionais, que circulam normalmente pela cidade, a partir de testes feitos no Autódromo de Interlagos.
“Simulamos uma situação normal de uso. Com subidas, descidas e assim por diante”, disse Paulo Alfonso de André, pesquisador do LPAE, um dos principais grupos do mundo na investigação da poluição urbana e de seu impacto no homem.
Com o lado qualitativo confirmado, falta agora quantificar a melhoria. “Com mais um mês de trabalho, vamos conhecer a redução das emissões de partículas promovida pelo filtro. Mas sabemos que existe uma redução, o que já é importante em termos de saúde pública”, disse André.
Para o pesquisador da USP não existem dúvidas de que o diesel é uma das fontes mais importantes da poluição atmosférica em uma grande cidade. Segundo ele, se houvesse um índice de toxicidade de combustíveis – que deverá ser apresentado pelo mesmo grupo em breve – o diesel apareceria na frente da gasolina e do álcool.
“Isso significa que devemos trocar todos os motores pelo álcool? Talvez não. Nosso papel é mostrar caminhos do ponto de vista da saúde pública, mas a questão da poluição atmosférica é bem ampla. Ela deve ser analisada sob vários pontos de vista, de forma integrada”, defende o pesquisador.
Se o novo filtro virar uma das armas para diminuir a quantidade de partículas finas no ar, o ganho apenas será percebido pela população caso, por exemplo, as empresas de ônibus incorporem a tecnologia. Mas, mesmo que isso ocorra – e cada um dos filtros deverá custar, em média, US$ 1,1 mil –, o problema ainda estará longe de ser resolvido.
Segundo André, faltará combater as demais fontes de emissão de particulados e todas as demais que são, por exemplo, as precursoras do ozônio. Sem essas ações, os habitantes de São Paulo continuarão a inalar, no ato de respirar, em média, o equivalente ao uso de cinco cigarros a cada dia.
(Por Eduardo Geraque,
Agência Fapesp, 12/07/2006)