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2006-07-12
Promover o uso da energia solar no contexto do planejamento urbano para o desenvolvimento sustentável e incentivar a criação de uma legislação municipal que introduza por etapas o uso de aquecedores solares em substituição a chuveiros e aquecedores elétricos, ou a gás. Esta é a proposta do seminário Cidades Solares, realizado ontem (11/07), na Câmara de Vereadores de Porto Alegre. O evento foi promovido pelo Instituto Vitae Civillis e Associação Brasileira de Refrigeração, Ar Condicionado, Ventilação e Aquecimento (Abrava), com apoio do Núcleo Amigos da Terra (NAT)/Brasil, em Porto Alegre.

A energia solar é a única fonte de eletricidade que não afeta a natureza, pelo menos de forma aparente. Por substituir a eletricidade provinda das hidrelétricas e dos combustíveis fósseis, segundo informações do NAT/Brasil, cada potencial instalação de aquecedor solar reduziria o dano ambiental associado às fontes de energia convencionais: não produz emissões de gases tóxicos que contribuem para a poluição urbana, não afeta o clima global por não emitir gases estufa à atmosfera e não deixa lixo radioativo como herança para as gerações futuras.

A utilização dessa energia é uma tendência mundial. Comunidades da Espanha, China, Alemanha, Portugal, França, Itália, Israel, Áustria, México, Argentina – entre outras – já tornaram a iniciativa obrigatória. Ela pode ser usada para qualquer necessidade de aquecimento de água: condomínios verticais, casas térreas e sobrados, hotéis, habitações coletivas e aquecimento de piscinas.

Condições favoráveis no país

As condições climáticas do Brasil são muito favoráveis para a utilização de um sistema de aquecimento solar de água: praticamente toda sua área recebe mais de 2.200 horas por ano de insolação, com um potencial equivalente a 15 trilhões de MWh, correspondentes a 50 mil vezes o consumo nacional de eletricidade. "Se formos analisar a condição climática do Brasil, somos favorecidos em relação a muitos países que estão a anos luz na nossa frente, como o Canadá, que tem uma insolação muito menor, temperaturas mais baixas, e usa muito mais a mesma tecnologia", afirma Carlos Felipe Faria, diretor-executivo do Departamento Nacional da Associação Brasileira de Refrigeração, Ar Condicionado, Ventilação e Aquecimento (Abrava).

Hoje, o país tem 2,7 milhões m² de coletores solares, o que atende cerca de 600 mil residências. Ano passado, uma área total de 400 m² foi instalada. A previsão para este ano é de crescimento em 20%. "A nossa meta é triplicar o mercado até 2010 e chegar à adoção de 40% das residências até 2030, com mais de 100 milhões de m² instalados - o que representaria a economia de uma Itaipu para aquecer os chuveiros elétricos", comenta o diretor-executivo da Abrava.

A capital mineira, Belo Horizonte, é um caso especial. A cidade, que tem a energia elétrica mais cara do Brasil, aplica a tecnologia há mais de 10 anos – cerca de 1.500 edifícios têm aquecimento térmico de água. "A maioria das edificações novas vem com a aparelhagem. Todo comprador de imóvel valoriza mais os que possuem o sistema térmico solar", relata.

Os chuveiros elétricos, por exemplo, consomem quase 8% de toda energia elétrica produzida no Brasil, sendo responsáveis por praticamente 20% do pico de consumo de energia do sistema elétrico nacional. A substituição da energia elétrica pelo aquecimento solar gerou uma economia de mais de 380 MWh no país, somente no ano de 2005. Oitenta e cinco por cento dos usuários são residenciais, 14% são do setor terciário e apenas 1% são da área industrial.

Atualmente, cerca de 140 empresas brasileiras produzem coletores solares. "Temos capacidade para produzir três vezes mais. Exportamos para mais de 30 países. Ganhamos a confiança do consumidor porque agora grande parte da nossa produção tem o selo do Inmetro. Parte da desconfiança que o cliente tinha na energia solar foi sanada", afirma Carlos Faria.

Embora a tecnologia tenha custo inicial elevado quando comparados aos chuveiros elétricos – um coletor solar custa, em média, R$ 4 mil –, a quantia empregada na compra e instalação se paga em dois ou três anos de economia na conta de luz.

Para a população de baixa renda, a instalação de coletores solares aumenta a capacidade de compra e a qualidade de vida nas famílias, com a redução nos custos mensais em até 70%, quando comparada a sistemas convencionais de energia. A Abravo já fez acordos com o Banco Real, o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal a fim de que essas instituições disponibilizem linhas de financiamento para pessoas de baixa renda terem acesso à tecnologia.

"Ao contrário das grandes obras de energia termelétrica que geram empregos praticamente apenas na época da construção, os equipamentos de energia solar são produzidos por micro, pequenas e médias empresas brasileiras. São contratados trabalhadores para instalação, manutenção e desenvolvimento desses equipamentos. Em termos de geração de empregos e economia de recursos naturais, o solar só tem vantagens a apresentar", opina Lúcia Ortiz do NAT/Brasil.

A região Sul é a terceira em utilização do aquecimento solar, vindo atrás das regiões Sudeste e Centro-Oeste. No Rio Grande do Sul, o pico de demanda de energia é em torno de 4.000 MWh. Se houvesse uma redução de 20%, haveria queda de 800 MWh. "Isso é mais que toda a energia produzida pela usina de Barra Grande, marco do desrespeito ambiental, e mais do que a ultrapassada e poluente termelétrica a carvão de Jacuí. Podemos evitar novos empreendimentos como esses se reduzirmos nossa demanda, evitando novos impactos ambientais e utilizando, assim, os recursos públicos de forma mais racional", argumenta Lúcia Ortiz do NAT/Brasil.

Segundo Carlos Faria, da Abrava, "o RS tem uma população conscientizada na questão ambiental e conta com universidades que são referência, como a UFRGS. Em suma, tem tudo pronto para tirar a história do papel criando uma política pública, ou um incentivo para construções novas, a exemplo de algumas cidades do estado de SP".

Cidades Solares

O seminário Cidades Solares discutiu os instrumentos municipais de gestão energética para a sustentabilidade na cidade, a partir dos conceitos e práticas para construções, com foco na energia solar, conforto térmico e utilização da água. O evento é uma iniciativa nacional, que já aconteceu em várias regiões do Brasil neste ano, e passou ontem (11/07) pela Câmara de Vereadores de Porto Alegre.

Lúcia Ortiz fez um balanço do seminário: "Ficamos satisfeitos porque estava lotado - as pessoas não tinham onde sentar. Nos surpreendeu a participação massiva dos estudantes de arquitetura, que serão os futuros projetistas deste país e mostraram bastante interesse na causa da energia solar. A decepção ficou por conta da baixa participação dos vereadores, que ficou aquém das expectativas. Contudo, esperamos que os resultados do seminário cheguem até eles".

O evento contou ainda com a presença do secretário Municipal do Meio Ambiente, Beto Moesch, que disse ser papel da prefeitura não somente mostrar as alternativas para o desenvolvimento sustentável, mas também lutar por elas. "Não somos conservadores. Queremos a revolução dentro dessa visão alternativa de meio ambiente com a participação da sociedade", enfatizou o secretário.
(Por Ana Luiza Leal, para Ambiente Já, 12/07/2006)

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