G8 deverá tratar não apenas da segurança energética, mas também da mudança climática
2006-07-12
Legisladores de nações industrializadas e emergentes reclamaram do Grupo dos Oito (G-8) países mais poderosos que busquem uma harmonia entre as políticas energéticas e os esforços mundiais para deter o aquecimento planetário. O chamado coincide com as últimas declarações do chanceler da Rússia, Sergei Lavrov, que anunciou que o presidente Vladimir Putin, como anfitrião da próxima reunião de cúpula do G-8, colocará a segurança energética no topo da agenda do encontro, que acontecerá no próximo dia 17 na cidade russa de São Petesburgo.
“O objetivo é uma estratégia coordenada que suponha uma responsabilidade compartilhada, bem como riscos e benefícios mútuos”, afirmou Lavrov em entrevista ao jornal Rossiiskaya Gazeta. Parlamentares de 13 países reunidos em Bruxelas nos dias 7 e 8 deste mês, a convite da Organização Mundial de Legisladores por um Meio Ambiente Equilibrado (Global Internacional), receberam com agrado a decisão do governo russo de concentrar a reunião no tema da segurança energética. Entretanto, disseram que as discussões deveriam estar vinculadas com o problema da mudança climática.
“Se não tratarmos dos dois temas de forma exitosa, corremos o risco de prejudicar nossos objetivos econômicos, de desenvolvimento e segurança”, afirmaram em uma declaração divulgada dois dias depois de intensas discussões na sede do Parlamento Europeu. “A segurança climática e a segurança energética estão intrinsecamente unidas. A eficiência energética e a diversificação das fontes de energia são respostas fundamentais para os dois temas”, acrescentaram. Os legisladores reunidos em Bruxelas representavam os países do G-8 (Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Grã-Bretanha, Itália, Japão e Rússia) mais Brasil, China, Índia, México e África do Sul.
A maioria dos cientistas concorda que o aquecimento do planeta se deve às atividades humanas, sobretudo aos gases liberados pela queima de petróleo, gás e carvão, sendo que o principal deles é o dióxido de carbono. Esses gases se acumulam na atmosfera e, por sua grande capacidade de reter o calor dos raios solares, acentuam o chamado efeito estufa.O Protocolo de Kyoto entrou em vigor em fevereiro e impõe aos países industriais que o assinaram e ratificaram a obrigação de reduzir suas emissões de gases a níveis 5,2% inferiores aos de 1990, no prazo que vence em 2012.
Calcula-se que os países em desenvolvimento contribuirão com 39% das emissões mundiais de gases que causam o efeito estufa até 2010, enquanto estimativas independentes indicam que nos próximos 24 anos 50% dos investimentos mundiais em energia serão feitos em países do Sul. “Não tem saída. Na Índia precisamos de energia para o desenvolvimento, é a única forma de encontrar vias para reconciliar as necessidades de desenvolvimento com os imperativos ambientais”, disse o ex-ministro de Meio Ambiente indiano, Suresh Prabhu.
A China enfrenta um dilema semelhante. “A conservação dos recursos e uma sociedade em harmonia com o meio ambiente” devem ser o modelo de desenvolvimento, afirmou a vice-presidente do Comitê de Proteção do Meio Ambiente e Conservação de Recursos para a Assembléia Popular Nacional chinesa, Zhang Wantai. O que se pode fazer em nível internacional para garantir investimentos em projetos com baixas emissões de carbono?
O Fundo Mundial para o Meio Ambiente do Banco Mundial (GEF) e o Mecanismo para um Desenvolvimento Limpo, no contexto da Convenção das Nações Unidas sobre Mudança Climática são úteis, mas quase periféricos devido ao alto número de investimentos, disseram os parlamentares. “O desafio é identificar as ações práticas que possam fazer a diferença em estimular investimentos baixos em carbono na crescente produção energética das economias emergentes e em desenvolvimento”, diz um estudo da não-governamental Chatham House, antes conhecida como The Royal Institute os International Affairs (Real Instituto de Assuntos Internacionais), com sede em Londres, e que serviu como insumo para os grupos de discussão em Bruxelas.
Por outro lado, um relatório apresentado pelo Banco Mundial calcula que são necessários US$ 8,1 trilhões para possibilitar a adoção de energias limpas nos próximos 24 anos. “Dezenas de milhares de dólares” serão precisos para minimizar o impacto da mudança climática, disse o coordenador-executivo do GEF e especialista em meio ambiente do Banco Mundial, Steve Forman. A adaptação tecnológica custaria entre US$ 10 bilhões e US$ 40 bilhões ao ano, acrescentou.
Por sua vez, o presidente do Banco Mundial, Paul Wolfowitz, disse em mensagem aos legisladores que “instrumentos financeiros inovadores poderiam complementar os já existentes” para conseguir esses objetivos. “Estas novas opções estão sendo estudadas e serão apresentadas nas reuniões anuais previstas para setembro em Cingapura”, afirmou. “Usando a energia de maneira mais eficiente e diversificando nossos recursos energéticos podemos reduzir a intensidade energética de nossas economias, aliviar a pressão em nossa infra-estrutura energética, fortalecer o desenvolvimento e, ao mesmo tempo, reduzir nossas emissões de gases que causam o efeito estufa”, diz a declaração aprovada pelos legisladores.
(Por Ramesh Jaura, Envolverde, 11/07/2006)
http://www.envolverde.com.br/materia.php?cod=19561