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2006-07-11
Seis anos depois de fracassar em sua tentativa de ocupar a Casa Branca, o ex-vice-presidente norte-americano Al Gore voltou ao centro da cena nacional, agora como defensor da corrente ecologista. Gore, um ambientalista de toda a vida e vice-presidente entre 1993 e 2001, agora tenta construir um movimento em todos os Estados Unidos para obrigar os políticos de Washington a repensarem suas políticas relativas à mudança climática. Desde o mês passado, quando divulgou seu documentário “Uma verdade inconveniente”, que alerta para os perigos do aquecimento do planeta, o nome de Gore ressoa outra vez na mídia norte-americana.

Estimulado pelo sucesso do filme, que já foi visto por milhões de pessoas, Gore prevê lançar uma campanha nacional de mobilização da opinião pública pelo problema da mudança climática. Na campanha, cujo início está previsto para o final deste verão (do hesmifério norte), participarão pelo menos mil ativistas, capacitados pelo próprio Gore, que organizarão atividades em todo o país para conscientizar a população. O ex-vice-presidente parece convencido de que a pressão dos congressistas pode transformar a política oficial norte-americana relativa à mudança climática.

Pelo Protocolo de Kyoto, de 1997, 34 países industrializados estão obrigados a reduzir, até 2012, suas emissões de gases causadores do efeito estufa em 5,2% com relação aos níveis de 1990. Esses gases provocam o aquecimento do planeta, segundo a maioria dos cientistas. Porem, o presidente George W. Bush não só retirou a assinatura que havia sido colocada por seu antecessor, Bill Clinton (1993-2001), argumentando que afetaria a economia de seu país, como coloca em dúvida as projeções da comunidade científica sobre a mudança climática.

Gore, que teve um papel fundamental nos esforços mundiais para a assinatura do tratado, rechaça os argumentos de Bush e diz que os Estados Unidos são um dos maiores responsáveis pelo aquecimento do planeta. “Não podemos deixar passar este momento. Ouvi e vi várias vezes antes que a preocupação com a crise climática chega ao ápice e, meses depois, se evapora. Creio que desta vez é diferente”, afirmou.

A campanha de Gore, do opositor Partido Democrata, também inclui a criação do que chama de “Aliança para a Proteção do Clima”, integrada por destacados líderes empresariais, sindicais e religiosos, que tem a missão de arrecadar dezenas de milhões de dólares. Isto levou alguns a dizerem que Gore poderia aproveitar este apoio para se apresentar nas eleições presidenciais de 2008, porém ele qualificou de “absurdas” as especulações. “Creio profundamente que a crise climática deve ser definida como uma questão moral, e não política”, disse Gore à revista Grist.

Embora o ex-vice-presidente sofra grande oposição, fundamentalmente do governante Partido Republicano, conta com um forte apoio da esquerda. “É difícil não ser partidário de sua iniciativa”, disse ao Terramérica Ralph Nader, adversário de Gore nas eleições de 2000 pelo Partido Verde e que é visto como um dos principais responsáveis por sua derrota diante de Bush. “Não creio que esteja competindo para se converter em presidente”, afirmou Nader, defensor dos consumidores e pioneiro do movimento ambientalista nos Estados Unidos.

Nader pode estar certo. Apesar de ser o principal incentivador da Aliança, Gore decidiu não integrar sua junta diretiva, formada por líderes democratas e republicanos. Parece determinado a atrair personalidades de todos os setores, qualquer que seja seu viés político. Entretanto, apesar dos esforços bipartidários para concentrar a discussão na mudança climática, crescem os ataques contra Gore por parte de institutos e veículos de comunicação considerados partidários da indústria energética.

Nos últimos dias, o Competitive Enterprise Institute, com sede em Washington, em parte financiado pela companhia de petróleo Exxon Móbile, lançou uma série de comerciais na televisão sobre a “suposta crise do aquecimento do planeta”. Por sua vez, Gore e seus partidários realizam esforços para atrair filantropos milionários como George Soros, Ted Turner, Steve Jobs, simpatizantes da campanha ambientalista. Embora o financiamento possa demorar várias semanas, parece que não falta a Gore apoio dos grupos da sociedade civil, que já levam adiante suas respectivas campanhas em pequena escala.

“Gore reinventou a si mesmo da melhor forma possível: pressionando por soluções de sentido comum a um dos problemas mais graves de nosso tempo”, disse ao Terramérica o ativista Scott Paul, da organização Citizens for Global Solution (Cidadãos por uma Solução Global), com sede em Washington. “O plano de Gore para capacitar mil pessoas é um exemplo de liderança séria. Os norte-americanos estão esperando por ele”, acrescentou.

Segundo o grupo, três em cada quatro norte-americanos acreditam que o governo federal deveria limitar suas emissões de gases que causam o efeito estufa, e uma maioria ainda mais avantajada considera que a mudança climática é uma ameaça grave. Na visão de Paul, Gore busca construir uma vontade política para “as ambiciosas soluções” que os Estados Unidos necessitam diante da mudança climática. “Seu esforço é um grande passo”, afirmou. Apesar das diferenças políticas com Gore, Nader deu uma visão semelhante. “Creio que Gore vai converter a mudança climática em um tema” de importância, disse.
(Por Haider Rizvi, Terramérica, 10/07/2006)
http://www.envolverde.com.br/materia.php?cod=19481

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