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2006-07-10
A comunidade do distrito de Criúva está insatisfeita com as explicações da Hidrotérmica SA, que projeta a construção de uma Pequena Central Hidrelétrica (PCH) na localidade de Palanquinhos. Representantes da empresa estiveram no distrito há uma semana para falar sobre a obra, mas não convenceram os moradores. Eles consideram Palanquinhos paraíso ecológico e temem a mudança que a hidrelétrica causaria na paisagem.

A PCH foi autorizada pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) ainda em 2003 e recebeu licença de instalação da Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) em 2004, mas é a primeira vez que a comunidade discute o assunto. O subprefeito de Criúva, Marcos Augusto Sandri, diz que soube da instalação dessa PCH por uma reportagem publicada pelo Pioneiro no ano passado. Mas ele só se deu conta do que ela representaria para o distrito depois que a empresa apresentou o projeto à comunidade.

- Eu não tinha me dado conta do que aconteceria com Criúva. Agora caiu a ficha - diz.

Apenas as lideranças do distrito participaram do encontro. Para a maioria dos moradores, a PCH trata-se apenas de um boato. São os empreendedores do ecoturismo na localidade que estão mais preocupados com o que pode acontecer. É o caso de Guadalupe Traslatti Pante, 23 anos, que guia grupos de turistas no cânion Palanquinhos, um dos pontos que seriam atingidos pela central hidrelétrica.

- O impacto ambiental vai ser enorme, porque não envolve só a área que vai ser alagada e a construção da casa de máquinas. Um túnel imenso passará pelo cânion, e vai ter torres de energia e fiação elétrica. O que vai acontecer com a paisagem?

Além de Palanquinhos, a Hidrotérmica deverá construir outra PCH em Criúva. O Pioneiro tentou durante três dias entrevistar o engenheiro responsável pela obra, que ficou de dar retorno por telefone e por e-mail. Até a noite de sexta-feira (07/07), no entanto, o representante da empresa não havia se manifestado.

Comitê apóia moradores
A reunião da Hidrotérmica com as lideranças da comunidade foi promovida pelo Comitê de Gerenciamento doa Bacia Hidrográfica Taquari-Antas. O presidente do comitê, Daniel Schmitz, diz que marcou o encontro para que os moradores discutissem o empreendimento.

- Por ser considerado empreendimento de pequeno impacto ambiental, dispensa a realização de audiência pública, que é a única chance de a comunidade discutir. Mas eu não concordo com isso porque a energia que ela vai gerar não é tão pequena a ponto de impactar pouco no meio ambiente e na vida da comunidade - argumenta.

Schmitz lembra que a construção da PCH foi autorizada pela Aneel quando o país vivia o drama do apagão, que causou quedas de energia no país. Ele diz que nem o comitê nem o Estado podem revogar a autorização federal, mas lembra que se o município quiser poderá tentar impedir na Justiça.

- O município tem que pensar no que quer para aquela região. Se é ecoturismo, é claro que a PCH vai prejudicar, porque ela vai alterar o ambiente natural. Nesse caso, o único jeito de tentar abortar o processo é buscando a Justiça.

"Não vão me convencer"
Para o fazendeiro Ivan Siqueira, 63 anos, a relação com Palanquinhos é sentimental. No lugar desde 1965, é o morador mais próximo do cânion e da área que deverá ser alagada.

- Sempre que vem um engenheiro aqui para olhar o lugar, sou eu que levo eles até lá. Eles podem falar o que quiserem que não vão me convencer que a hidrelétrica vai ser boa pra nós.Siqueira acha que além de prejudicar a natureza, a PCH vai destruir a paisagem e espantar os turistas.

- Falam que vai trazer progresso pra cá. Mas que progresso? No máximo vão vir um monte de trabalhadores que vão ficar aqui enquanto estiverem em obras, mas depois de pronto vão embora. Vamos ter que ficar aqui com todo esse estrago na natureza - lamenta.
(Por Graziela Andreatta, Pioneiro, 10/07/2006)

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