Lei brasileira adia planos da Stora Enso
2006-07-10
A exigência de se apurar o histórico completo de todas as áreas onde
pretende sua base florestal obrigou a multinacional sueco-finlandesa
Stora Enso a adiar para 2007 o início do plantio de eucaliptos em oito
municípios do oeste gaúcho. O que impede a largada da parte florestal do
projeto da empresa é a Lei da Faixa de Fronteira (nº 6634/79), que exige
autorização do Conselho de Defesa Nacional (CDN) para que pessoas
jurídicas estrangeiras possam adquirir imóveis rurais a menos de 150
quilômetros de distância do limite terrestre do território nacional. Como
as terras compradas pela multinacional no Estado estão dentro dessa
faixa, a empresa não pode escriturar as aquisições, nem iniciar o
plantio.
A maioria dos terrenos da Stora Enso foi comprada ainda no ano passado,
quando a empresa descobriu a necessidade de conseguir a autorização do
CDN. Desde então, a companhia vem percorrendo uma longa maratona atrás
dos documentos que devem ser apresentados ao conselho para garantir a
autorização.
Da série de documentos que precisam ser levantados, o que vem dificultando
o trabalho da empresa é um tipo de relatório chamado cadeia dominial, que
é um histórico de todos os proprietários e transações do imóvel. Para
isso, é necessário apurar documentos e certidões do século XIX, que são
difíceis de encontrar e muitas vezes são ilegíveis ou trazem termos do
português arcaico. Para ajudar a interpretar os documentos, a empresa
chegou a buscar ajuda de historiadores na Fronteria-Oeste e de
pesquisadores da Cúria Metropolitana.
Orientado pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária
(Incra), o processo de recolhimento dos documentos do primeiro lote de
terras deve ser concluído ainda este mês, garante o diretor florestal da
Stora Enso América Latina, João Borges. "Também nos foram solicitados
documentos de outros órgãos como Funai e Ibama", acrescenta. O primeiro
lote corresponde a 20 mil hectares. A multinacional já iniciou a busca dos
documentos referentes ao outros 25 mil hectares já adquiridos.
Devido aos nove meses empregados na busca de documentos, o plano da Stora
Enso de plantar 5 mil hectares ainda este ano deve ficar para 2007. "Há
risco de não fazermos nenhuma plantação neste ano", lamenta Borges. Depois
da entrega da documentação, as escrituras e atestados serão analisados
pelo Incra, que vai emitir um parecer a ser analisado pelo CDN. Para o
plantio começar ainda este ano, a liberação deveria ocorrer até outubro,
quando termina a época de plantio do eucalipto.
O procurador regional do Incra no Estado, André Luis Duarte Silva, afirma
que é dificil prever em quanto tempo será feita a análise e o
encaminhamento dos processos. "Pretendemos concluir o trabalho até o
final do ano", calcula. Até o final da década a Stora Enso vai decidir
se instala uma fábrica de celulose no Estado, com investimento estimados
em US$ 1 bilhão. Nos próximos anos, a multinacional ainda deve investir
cerca de R$ 250 milhões na compra de terras para a base florestal
estimada em R$ 125 mil hectares.
Aracruz deve normalizar o plantio de eucalipto
Depois de enfrentar um atraso de quase dois meses no início do plantio de
florestas previsto para este ano, a Aracruz Celulose deve concluir todo o
planejamento de semeadura de 2006, segundo o gerente regional florestal
da empresa, Renato Alfonso Rostirolla. Ele diz que a companhia prevê o
plantio de 20 mil hectares até o final do ano. "Já temos liberados mais
de 8 mil hectares e outros 12 mil estão sendo examinados pela Fepam",
destaca Rostirolla. Até outubro a empresa pretende concluir o plantio de
toda a área, nas regiões de São Gabriel, Butiá, Encruzilhada e Barra do
Ribeiro.
O plantio devia ter iniciado em março, mas as primeiras semeaduras
somente foram possíveis no mês de maio em virtude das mudanças nas regras
para o licenciamento ambiental implementadas neste ano pela Fundação
Estadual de Proteção Ambiental (Fepam). A partir de janeiro, a Fundação
passou a condicionar o licenciamento de novas áreas para florestamento à
permissão prevista no estudo de zoneamento ambiental do Rio Grande do
Sul, que deve estabelecer quais áreas são mais adequadas para cada tipo
de cultura.
No entanto, como a pesquisa será concluída apenas em agosto, a Fepam não
emitiu nenhum licenciamento para novas áreas de florestamento até maio.
As primeiras licenças somente foram liberadas no fim do mês passado a
partir da assinatura de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) entre a
Fepam e o Ministério Público Estadual (Fepam). O documento permitiu a
concessão de licenças temporários até o fim do ano, enquanto o zoneamento
não é concluído. Como as autorizações são provisórias, a Fepam vem
homologando o florestamento apenas em áreas onde já havia cultivo
florestas ou lavouras, bem como em campos onde é verificada a presença de
pastagens exóticas, segundo Jackson Müller, diretor técnico da Fepam.
(Por João Guedes, Jornal do Comércio, 10/07/2006)
http://jcrs.uol.com.br/noticias.aspx?pCodigoNoticia=1550&pCodigoArea=33