Com 758 quilômetros de hidrovias disponíveis, dragadas e sinalizadas, a navegação fluvial como modal de transporte de cargas e passageiros é subutilizada no Rio Grande do Sul, constata a Superintendência de Portos e Hidrovias (SPH). Através delas são movimentados de 4,5 milhões a 5 milhões de toneladas de cargas/ano, mas o volume poderia ser 10 vezes maior, 50 milhões de toneladas/ano, diz o diretor da Navegação Guarita, César Rostirola.
"As empresas desconhecem o sistema hidroviário, sua estrutura operacional e seus custos, que são inferiores aos dos modais concorrentes, como o rodoviário e o ferroviário", observa o diretor-superintendente da SPH, Roberto Hallal.
Na movimentação de fertilizantes, a redução do custo frete, na comparação com o modal rodoviário, é superior a 50%. Com o objetivo de sensibilizar o empresariado do Rio Grande do Sul para a importância e viabilidade da navegação fluvial e produção econômica, a SPH realizou em parceria com a editora Conexão Marítima, na semana passada, o Fórum de Desenvolvimento Hidrovia: Um Desafio Nacional.
Foram apresentados cases de empresas de vários estados, mas no RS há gargalos a serem vencidos. O principal é o do calado (profundidade). Pelo rio Gravataí, por exemplo, passam 60% dos produtos importados e exportados da Capital e região Metropolitana (derivados de petróleo, adubos, fertilizantes).
O problema do rio e da navegação, informa o armador Fernando Ferreira Becker (Trevisa Investimentos), é, na verdade, de investimento. O seu calado tem 14 pés - deveria ser de 17 pés, ou 5,20 metros, como é o do porto de Porto Alegre.
Devido a essa limitação de profundidade, os navios dos terminais portuários de empresas não podem usar 100% da sua capacidade de carga. Transportam apenas 60% do que poderiam. Hallal explica a situação: "O único obstáculo para a realização da dragagem é de licenciamento ambiental. Estamos aguardando esta autorização".
Segundo Rostirola, a subutilização deve-se a vários fatores, estruturais, culturais e logísticos. O diretor superintendente da SPH cita como exemplos das dificuldades da expansão da navegação fluvial, a dragagem insuficiente dos canais, o pouco número de terminais nos municípios produtores, a armazenagem dos produtos distante da hidrovia, inexistência de carta náutica eletrônica, balizamento luminoso e falta de compromisso dos produtores (donos da carga) com os transportadores hidroviários, entre outros.
O tempo de percurso, na avaliação de Roberto Hallal, não é problema. São gastos de 18h a 24h de Porto Alegre ou Gravataí até à saída para o mar, via porto de Rio Grande, mas há uma grande economia proporcionada pela quantidade da carga embarcada, com segurança. Ao todo, o Rio Grande do Sul tem 2,1 mil quilômetros de hidrovias.
Hidrovia é destaque na logística de grandes grupos
Mesmo com deficiências, as hidrovias são preferenciais na logística de grandes grupos. No rio Gravataí estão, por exemplo, os terminais da Refap S/A, Yara, Merlin e Bunge; no Jacuí - terminal Santa Clara, da Copesul -, estão a Central de Matérias-Primas e empresas da segunda geração, como Petroquímica Triunfo, Ipiranga Petroquímica e Petroflex; e no rio Guaíba, está localizada a Aracruz, com seu próprio terminal.
Atualmente, quase toda a produção de celulose da fábrica de Guaíba da Aracruz é transportada por hidrovia, algo em torno de 400 mil toneladas/ano. A nova fábrica, com 1 milhão toneladas/ano, também se utilizará da navegação fluvial. Por caminhão, o transporte da tonelada de fertilizantes à Maxifertil, usuária do porto de Rio Grande e do terminal da Yara (ex-Trevo), em Porto Alegre, custaria R$ 35,00.
Mas a despesa é de R$ 16,00 por tonelada, pelo aproveitamento hidroviário, cita o diretor industrial da empresa, Marcelo Figurelli Xavier. No porto da Capital, onde são movimentadas 900 toneladas/ano, as cargas de destaque são fertilizantes, trigo, sal e bobinas de papel. O diretor-superintendente da SPH destaca que foram investidos R$ 27 milhões no sistema hidroviário do RS desde 2003. Neste ano, serão aplicados mais R$ 9 milhões.
(Por Heron Vidal, Correio do Povo, 09/07/2006)