Muitos dos freqüentadores da feira ecológica que movimenta o Brique da Redenção nas manhãs de sábado nem desconfiam que o responsável por uma das raras bancas de publicações sobre meio ambiente e temas afins é pioneiro em ambientalismo no país: o advogado e contador Augusto César Cunha Carneiro.

Aos 83 anos, ele tem muita história para contar de luta contra o mau cheiro e poluição das águas do Guaíba pela empresa de celulose Borregaard, ou contra os cortes indiscriminados de árvores na Capital. Mas também tem histórias de sucessos, como a criação de parques como o de Itapuã, da criação da primeira instituição de um órgão ambiental - a Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan) - e depois a primeira secretaria de meio ambiente entre todos os municípios brasileiros, que foi a Smam, de Porto Alegre.

"Tivemos embates em muitas frentes e vencemos oponentes do peso do prefeito Telmo Thompson Flores", lembra. Nessa e em outras missões, ele trabalhou em parceria com o ecologista José Lutzenberger e outros defensores do meio ambiente.

Na documentação de Carneiro figuram os ensaios e pensamentos de um funcionário da Capitania dos Portos, o leopoldense Henrique Luiz Roessler, que em 1939 começou a defender o meio ambiente. Mesmo não tendo convivido com Roessler, ele tem a mesma paixão pelo meio ambiente.

Para Carneiro, os desafios em defesa do meio ambiente estão cada vez mais complicados, exigindo de entidades governamentais e não-governamentais alternativas para conciliar o grande aumento populacional e consequente incremento no consumo com a preservação dos ambientes naturais. Sempre polêmico, defende o controle da natalidade e a maior conscientização para reduzir o consumo em nome da preservação do Planeta.

Carneiro tem, em sua residência, um amplo acervo de documentos - desde notícias de jornais sobre os problemas até artigos de ambientalistas como Henrique Luiz Roessler, que foi colunista do Correio do Povo.

A presidente da Fundação Gaia, Lara Lutzenberger, que costuma recorrer aos arquivos do ecologista, conta que os desafios na luta pela preservação do meio ambiente são os mesmos desde o começo das batalhas de seu pai, José Lutzenberger, ao lado de Carneiro.
(Correio do Povo, 09/07/2006)