Amazônia muda e afeta Sul e Sudeste do país
2006-07-10
Um dos motores do clima no mundo dá sinais de mudança. Pesquisas indicam que alterações no Amazonas e na monumental rede de rios à sua volta deixarão o clima da maior floresta tropical do planeta mais quente e seco. As conseqüências serão sentidas muito além das fronteiras da mata, não só no Brasil, mas em toda a Terra. Da floresta e dos rios que a alimentam vêm os ventos que trazem chuva para o Sul e o Sudeste do Brasil. Me nos ventos úmidos significarão uma estação maior de estiagem nessas regiões.
O alerta está em estudos de observações e modelos climáticos desenvolvidos pelo grupo do climatologista José Marengo, do Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (CP TEC/Inpe). Eles indicam que mudanças climáticas associa das à ação humana transformarão a Bacia Amazônia. Por mudanças climáticas entenda-se alterações locais, principal mente corte de árvores e queimadas. Mas também mudanças planetárias ligadas ao aquecimento global.
- O maior sistema de rios do mundo passa por severa mudança e isso poderá afetar todo o planeta. Junto com as florestas do oeste da África e a região das monções na Ásia, a Amazônia é um dos grandes motores climáticos, fundamental para a circulação dos ventos e a distribuição de umidade - diz Marengo, cujo estudo foi divulgado no boletim do Programa Mundial de Pesquisa do Clima, da Organização Meteorológica Mundial.
Marengo usa como exemplo um dos sinais da imensidão do Amazonas. É sabido que navios podem abastecer seus tanques com água doce em pleno Atlântico a centenas de quilômetros da costa brasileira. O Amazonas despeja 300 mil metros cúbicos por segundo de água doce no mar durante a estação chuvosa.
- Mas se nossos modelos estiverem corretos, isso deixará de ocorrer. Os navios terão que chegar bem mais perto da costa se quiserem água doce - diz o pesquisador, coordenador do projeto "Uso de Cenários de Mudanças Climáticas Regionais em Estudos de Vulnerabilidade e Adaptação no Brasil e na América do Sul", financiado principalmente pelo Global Opportunity Fund (GOF), britânico.
O cientista fez uma revisão dos estudos sobre a hidrologia da Bacia Amazônica. O resultado revelou sinais significativos de mudanças no ciclo regional de água desde os anos 70. E essas mudanças parecem ter associação com queimadas e elevação global da concentração de gases-estufa na atmosfera.
A Amazônia distribui umidade por boa parte da América do Sul. Pesquisadores ainda não compreendem muito bem como esse sistema funciona. Mas sabem que pequenas alterações no regime de chuvas da Amazônia podem não só reduzir o fluxo dos rios locais, mas também alterar as chuvas no Sul e no Sudeste do Brasil. Os rios da Bacia Amazônica e as florestas úmidas são tão gigantescos que uma alteração aparentemente ínfima pode ter impacto grande.
- Eventos extremos de seca e chuva intensas se tornam mais comuns. Temos sinais claros de que o clima passa por mudanças - explica o climatologista.
(Por Ana Lucia Azevedo, O Globo, 07/07/2006)
http://oglobo.globo.com/jornal/