O anúncio da vinda de indústrias de celulose para o Estado e do
plantio
de florestas de eucaliptos na Metade Sul deixou muitos gaúchos e
ambientalistas de cabelo em pé. Vai secar os pampas e prejudicar a
fauna
e a flora, muitos pensaram. A polêmica cresceu e vem provocando
debates
acalorados.
Na única faculdade de Engenharia Florestal do Estado, na
Universidade
Federal de Santa Maria (UFSM), esse é o assunto do momento. Vários
pesquisadores estão debruçados sobre o tema. Um deles é o doutor
Mauro
Valdir Schumacher, do Laboratório de Ecologia Florestal, para quem o
plantio de árvores pode ser prejudicial, se for feito sem critérios.
Por
isso, pesquisa uma forma de investir no florestamento sem afetar o
ecossistema do Pampa.
Schumacher coordena um grande projeto de pesquisa, cuja idéia é
medir até
que ponto se pode plantar florestas na Metade Sul sem causar danos
ao
ambiente. O trabalho custará R$ 924 mil e vai durar sete anos. Em
uma
área da Votorantim Celulose - responsável pelo financiamento das
pesquisas
-, em Candiota, foram colocados equipamentos que monitoram
praticamente
tudo: a umidade do solo em várias profundidades, quanto chove, qual
a
incidência de luz.
Assim, será possível saber quanta água consomem as árvores e qual o
percentual máximo de ocupação das florestas em cada bacia
hidrográfica
para evitar que os rios sequem. Além disso, são feitas análises do
solo
para verificar quais substâncias são retiradas e devolvidas pelas
florestas. A intenção é dar resposta e tentar pôr fim à polêmica.
- Numa região onde chove 1,5 mil milímetros por ano e tem
determinado
solo, veremos qual espécie de árvore pode ser plantada, como isso
pode
ser feito e qual o número de mudas por hectare para que a floresta
não
cause danos ao ambiente - diz o coordenador.
Quanto ao medo de que o florestamento possa secar o campo, o
pesquisador
acrescenta que os ambientalistas estão usando informações imprecisas
na
hora de criticar o florestamento. Schumacher afirma que, caso o
plantio
seja feito sem cuidado, o corte das árvores ocorra em quatro anos em
vez
de sete e ainda não seja respeitada a distância das nascentes e dos
rios,
o solo e os rios podem realmente secar.
- Mas queremos evitar justamente isso com as pesquisas. Os
ambientalistas
estão gritando muitas coisas sem conhecimento técnico. Usam um dado
da
década de 70 de que uma árvore consome cem litros de água por dia,
enquanto estudos mais confiáveis demonstram que o consumo varia de
15 a
20 litros - afirma.
O temor dos ecologistas é o de que os produtores não respeitem esses
critérios técnicos e plantem florestas além nível suportável pela
natureza.
As pesquisas
O que avaliam
O consumo de água nas florestas de eucaliptos, pínus e acácia negra
e o
impacto ambiental das florestas
Para quem são feitas
Empresas, sindicatos e agricultores
No ramo madeireiro, alguns dos principais clientes são: Votorantim
Celulose e Papel (VCP), Aracruz Celulose, Reflorestadores Unidos,
Klabin,
Sindimadeira e Ageflor (RS)
A ocupação das florestas
Área florestal no planeta: 3,869 bilhões de hectares
Florestas nativas: 3,682 bilhões de hectares (95,17%)
Florestas plantadas: 186,7 milhões de hectares (4,83%)
Área de florestas no Estado: 5,294 milhões de hectares
Florestas nativas: 4,932 milhões de hectares (93,2%)
Florestas plantadas: 361,5 mil hectares (6,8%)
A estimativa é de que a área plantada chegue a 1 milhão de hectares
no
Estado com a instalação das novas fábricas de celulose
(
Zero Hora, 07/07/2006)