EUA devem negociar armazenamento de lixo atômico com a Rússia
2006-07-10
A administração Bush disse no sábado (08/07) que iria abrir negociações com a Rússia sobre um acordo, há muito discutido, de energia nuclear civil que irá abrir ala para que a Rússia se torne um dos maiores depósitos de combustível nuclear usado do mundo. O presidente Vladimir V. Putin tem procurado expandir a função do país nos negócios multibilionários de energia nuclear.
Os Estados Unidos têm se oposto a tal acomodação, em parte por preocupações sobre a segurança dos mecanismos russos, e também porque o país ajudou o Irã a construir seu primeiro grande reator nuclear. Mas oficiais do governo disseram que uma vez que Bush tenha confirmado a proposta de Putin, no ano passado, para que o Irã conduzisse o enriquecimento de urânio dentro da Rússia – e não dentro do próprio Irã, onde a administração teme que seria desviado para programas de armas – não faz muito sentido proibir trocas nucleares civis comuns com a Rússia.
O Washington Post relatou a mudança de estratégia dentro da administração Bush no sábado. Em Moscou, Sergei G. Novikov, porta-voz da Agência de Energia Atômica da Rússia, disse em entrevista telefônica que a Rússia e os Estados Unidos têm falado sobre o assunto nos últimos meses.
Ele acrescentou não esperar que um acordo fosse assinado durante a reunião do G-8, em St. Petersburg, na Rússia, durante o próximo final de semana, mas que Bush e Putin deveriam lançar uma nota sobre a cada vez maior cooperação nuclear, e então instruir seus governos a trabalharem em acordo. Os Estados Unidos possuem tratos parecidos com uma variedade de nações, inclusive a China.
Se uma nota assim for lançada, disse Novikov, os detalhes das negociações provavelmente sairiam em alguns meses. Um porta-voz de Putin se recusou a comentar. A Casa Branca tampouco se expressou, mas oficiais de duas agências envolvidas na decisão confirmaram que as negociações para um acordo com a Rússia irão proceder.
Para Bush, um acordo poderia ajudar a solucionar dois problemas: para onde mandar o crescente estoque de lixo nuclear do combustível nuclear usado dentro dos Estados Unidos, e como manter a Rússia a bordo da pressão sobre o Irã, para que este desista de seus programas de enriquecimento de urânio.
Mas as negociações também darão a Putin um incentivo econômico por abrir mão da ajuda nuclear ao Irã, o que por muito tempo foi um dos objetivos da administração Bush. Robert J. Einhorn, conselheiro do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais e ex-secretário assistente do Estado para a não-proliferação, na administração Clinton e rapidamente na administração Bush, disse que o acordo trará benefícios além do Irã – especialmente quando o presidente faz pressão para a construção de mais usinas nucleares em casa e mais cooperação sobre o compartilhamento de fornecimentos de energia nuclear civil no exterior.
(Por David E. Sanger e Jim Rutenberg, The New York Times, 09/07/2006)
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