Cidades mexicanas em fronteira com EUA disputam direitos sobre água
2006-07-10
Uma disputa de 20 anos pelos direitos sobre um ponto de infiltração de água ameaça complicar as relações fronteiriças numa região que escapou do debate sobre a imigração ilegal. Para saciar a cada vez maior sede de San Diego, os Estados Unidos possuem um plano para substituir um segmento de 37 quilômetros do Canal Americano, perto de Calexico, que é propriedade do governo federal e abastecido pelo rio Colorado, por um canal paralelo feito de concreto.
O projeto de US$225 milhões levará mais água a San Diego, eliminando o equivalente a bilhões de galões de água desperdiçada – o suficiente para abastecer 112 mil lares ao ano – que tem ajudado a irrigar as fazendas mexicanas ao redor da maior cidade-irmã de Calexico, Mexicali, desde a década de 40.
Fazendeiros mexicanos e seus advogados afirmam que o canal paralelo irá efetivamente “fechar a torneira” a 25 mil pessoas, inclusive 400 fazendeiros cujos poços se encontram nas infiltrações que ajudaram a transformar os secos campos ao leste de Mexicali, uma cidade industrial, em um dos maiores produtores mexicanos de cebolas, alfafa, aspargo, abóbora e outros alimentos.
Os fazendeiros e suas famílias se perguntam o que irão fazer se não podem trabalhar na terra e a resposta que dão é que irão atravessar a fronteira, de forma ilegal se assim necessitarem, e em massa. “Não podem levar nossa água e depois dizer que também não queremos a imigração” disse Juan Ignácio Guajardo, advogado em Mexicali que ajuda um grupo civil dali e dois grupos ambientalistas no sul da Califórnia que lutam pelo canal.
No dia 3 de julho, um juiz federal bateu o martelo contra os grupos ambientalistas dentro dos EUA e uma associação civil de Mexicali num processo contra o projeto, decidindo que muitos dos efeitos previstos sobre o México eram “altamente especulativos” e que a lei federal ambiental acerca do assunto não se aplica além da fronteira. Os grupos disseram estar preparando um apelo; além disso, uma ação distinta em tribunal estadual está pendente.
Diretores do grupo que controla o canal afirmam que o tratado internacional de 1944 sobre a distribuição de água do rio Colorado, responsável pela alimentação do canal, não proíbe a fortificação de concreto. Novos acordos entre os Estados e serviços públicos de água por todo o Colorado impuseram limites sobre o quanto de água pode ser tirada do rio. “Há muito mais demanda do que disponibilidade”, disse o diretor geral do distrito Imperial Irrigation, Charles Hosken. “Quando você encontra um ponto para extrair água, acho que é nossa obrigação ir atrás dele”.
(Por Randal C. Archibold, The New York Times, 07/07,2006)
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