O governo de Santa Catarina abriu três corredores sanitários para a passagem de produtos industrializados de origem avícola do Rio Grande do Sul para outros estados. Segundo o secretário de Agricultura de SC, Felipe Luz, as cargas deverão estar lacradas e trafegar pela rodovia BR 116, ingressando por Lages; pela BR 153, que passa por Concórdia; e pela SC 480, entrando por Chapecó. Desde quinta-feira, a divisa estava fechada por causa da confirmação de um caso de Newcastle numa pequena propriedade de Vale Real, no Vale do Caí.
A flexibilização foi anunciada ontem após o envio de novas informações sobre as ações sanitárias realizadas no RS. O secretário da Agricultura, Quintiliano Vieira, disse que a decisão traz tranqüilidade para o Estado. No início desta semana, técnicos gaúchos estarão reunidos com autoridades catarinenses para apresentar novo relatório.
O trânsito de aves vivas continua proibido por tempo indeterminado. Foi mantida a proibição total de ingresso em Santa Catarina, o que inclui produtos, ovos e carne de frango produzidos no RS, explicou o presidente da Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de SC, Hamilton Farias.
A abertura dos corredores foi considerada insuficiente pelas indústrias gaúchas. "A decisão ajuda; porém, queríamos estar colocando produto também em Santa Catarina, onde há clientes importantes", enfatizou o diretor técnico da Asgav, Eder Bardon. As empresas passaram a sexta-feira respondendo a consultas de importadores de diversos países. O setor evita especulações sobre uma possível queda de preço da carne de frango no mercado interno neste momento. Conforme Bardon, tudo dependerá de quem se manterá comprando na próxima semana.
Equipes trabalharam na coleta de exames de aves
Em Vale Real, equipes trabalharam, sexta-feira (07/07), na coleta de exames das aves localizadas dentro do raio de 3 quilômetros do foco. O trabalho deve ser concluído hoje e as amostras, remetidas ao Lanagro, em Campinas.
Um grupo de aproximadamente 50 técnicos veterinários do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Secretaria da Agricultura (SAA) e representantes da indústria avícola gaúcha iniciaram, ontem, uma varredura sanitária no município de Vale Real, no Vale do Caí.
Atuando dentro da chamada zona de proteção - área compreendida pelo raio de três quilômetros da chácara onde foi detectado o foco de Newcastle -, oito grupos iniciaram a peregrinação por 150 propriedades familiares. Foram recolhidas amostras de sangue, fezes e secreção de traquéia de galinhas criadas para subsistência na região.
A previsão do inspetor veterinário responsável pela área, Alcides Noll Filho, é de que as coletas se encerrem hoje até o meio-dia. As pequenas propriedades onde os profissionais encontraram aves foram interditadas, não podendo realizar operações de compra e venda dos exemplares sem autorização da SAA. "Nossa maior dificuldade é encontrar os animais, pois, como são criados para subsistência, vivem soltos", argumenta.
O material coletado seguirá para o Lanagro, de Campinas (SP) para exames. De acordo com Noll, o resultado é esperado para o final da semana que vem. "Temos que provar que não temos a enfermidade", enfatiza, lembrando que o RS abate 2,2 milhões de frango por dia. "Só a avicultura, gera 150 mil empregos no Estado", salienta. Os animais dos 70 aviários localizados na zona de vigilância (que inclui as propriedades no raio de 3km a 10km) não passarão por coleta de material. Segundo Noll, os altos morros do local já seriam uma barreira natural contra a proliferação da doença de Newcastle na região.
O foco foi confirmado na quarta-feira pela Superintendência Federal do Mapa no RS. Desde 1984, o RS estava livre da doença.
Produtores em clima de insegurança e dúvida
Os produtores familiares do município de Vale Real estão sob clima de insegurança e dúvida. Alguns, ainda desinformados sobre o foco da doença de Newcastle confirmado no local, ficaram surpresos com a varredura sanitária que estava sendo feita pela Secretaria da Agricultura, Ministério da Agricultura e a indústria avícola ontem.
Uma das chácaras visitadas pelos técnicos foi a de Onorino Bianchi. Tomando conhecimento do foco pela televisão, ele ainda não tinha informações sobre os procedimentos que deveria tomar com as 21 galinhas, 15 frangos e 6 poedeiras que mantém para subsistência. "Eu não posso vender, mas posso consumir estes frangos?", perguntou aos técnicos.
Na propriedade onde foi registrado o foco, o clima era de indignação com a divulgação do fato. O proprietário, que não quis se identificar, ressalta que o caso era insignificante, e que só fez a denúncia à SAA por medo de ser gripe aviária. "O povo daqui diz que seria melhor se eu tivesse enterrado os animais e ficado quieto", desabafa.
O prefeito do município, Silvério Stroeher, salienta que a divulgação do caso deveria ter sido feita com mais cautela, visto que a região tem barreiras naturais através dos altos morros que impedem sua propagação. "As propriedades aqui cultivam uva, e não vivem da avicultura", justifica. De acordo com ele, é importante esclarecer à população que a Newcastle não atinge o ser humano e não impede o consumo das aves.
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Correio do Povo, 08/07/2006)