São Paulo vai cadastrar árvores e criar RG vegetal
2006-07-07
A falta de arborização em São Paulo é um problema antigo, mas até hoje há uma dificuldade básica para solucioná-lo: não se sabe exatamente quantas árvores existem na capital nem onde ficam. Há uma estimativa de 1,5 milhão em toda a cidade, mas é um número sem rigor estatístico. A Prefeitura pretende mudar esse quadro com a sanção, pelo prefeito Gilberto Kassab (PFL), de uma lei, publicada quarta-feira (5/7) no Diário Oficial da Cidade, que institui o Programa Municipal de Arborização Urbana e determina a adoção, por meio de técnicas de georreferenciamento, de um inédito banco de dados com o cadastro de cada árvore do Município. "Vai ser uma espécie de RG vegetal, com idade, estado fitossanitário e localização exata", afirmou o secretário municipal do Verde e do Meio Ambiente, Eduardo Jorge.
Para o secretário, a proposta, apresentada na Câmara pelo vereador Paulo Frange (PTB), permitirá saber com precisão em que regiões da cidade é necessário intensificar o plantio de mudas. Atualmente a Prefeitura se baseia em índices de cobertura vegetal (Ver mapa) e no desatualizado estudo Vegetação Significativa do Município de São Paulo, de 1988. "É também uma questão de saúde pública, pois quem mora em bairros com pouca vegetação está sempre mais propenso a ter problemas respiratórios", disse Eduardo Jorge.
Mas os resultados desse censo arbóreo, segundo o secretário, deverão aparecer só no ano que vem. O edital de licitação para a contratação da empresa que fará o levantamento será publicado dentro de dois meses. A primeira região a ser mapeada é o centro, com financiamento de R$ 615 mil do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Depois serão priorizadas áreas pouco arborizadas, como os bairros com forte concentração industrial na zona leste (Brás, Mooca) e as regiões com grandes ocupações irregulares, como o M´Boi Mirim, na zona sul.
A Secretaria do Verde vinha estudando a revisão de suas estatísticas sobre a cobertura vegetal desde o início do ano, em reuniões com engenheiros agrônomos da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da Universidade de São Paulo. "A lei veio normatizar o que já era um dos nossos esforços", disse o secretário.
A lei aprovada por Kassab determina também a adoção de políticas de expansão das áreas verdes da cidade. São Paulo tem hoje 32 parques e bosques municipais, totalizando 15 milhões de metros quadrados. Segundo Eduardo Jorge, isso está sendo realizado em 14 áreas. Uma delas fica entre os bairros de São Mateus e Itaquera, perto do Córrego Aricanduva, na zona leste. São 4,5 milhões de metros quadrados que serão incorporados até 2007 ao Parque do Carmo. O terreno pertence à Companhia Metropolitana de Habitação de São Paulo (Cohab), que deverá receber R$ 30 milhões pela desapropriação.
Corredores verdes
Em março, quatro empresas contratadas pela Prefeitura a um custo anual de R$ 2,25 milhões começaram um grande programa de plantio e manutenção de árvores, atendendo a uma demanda do Plano Diretor do Município de criar "corredores verdes". Para fazer a ligação entre as grandes manchas de vegetação ao redor da capital e os parques e bosques urbanos, as equipes da Secretaria do Verde plantaram 32 mil mudas nos canteiros centrais de grandes avenidas e nas "ilhas" entre as pistas local e expressa da Marginal do Tietê - outras 18 mil foram plantadas por funcionários das 31 subprefeituras.
O catálogo de mudas do programa tem quase 350 espécies, com preferência para as árvores nativas - ipês amarelos, cambucis, araçás, sibipirunas etc. As mudas vêm principalmente do Viveiro Municipal de Cotia, na Grande São Paulo, mas há também espécies adquiridas de viveiristas particulares e também de empresas em acordos de compensação ambiental pelo corte de árvores.
"Dentro de dez anos os corredores estarão formados, atraindo para a cidade aves e insetos polinizadores", disse Luiz Roberto Jacintho, técnico do Departamento de Parques e Áreas Verdes (Depave), vinculado à secretaria.
De 915 condenadas, 83 sobrevivem
O secretário de Coordenação das Subprefeituras e subprefeito da Sé, Andrea Matarazzo, afirmou que 832 das 915 árvores que apresentavam algum risco de cair por causa da ação de cupins e fungos já foram cortadas pelas subprefeituras. As outras 83 não estavam em situação irrecuperável e foram mantidas.
As "árvores condenadas" faziam parte de um estudo feito em janeiro de 2005 pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), que vistoriou cerca de 9 mil árvores em seis bairros com cobertura vegetal antiga: Vila Mariana, Lapa, Santo Amaro, Pacaembu, Pinheiros e Cerqueira César. Após a apresentação do relatório, o secretário do Verde e Meio Ambiente, Eduardo Jorge, reuniu-se com entidades de moradores para explicar a situação de cada uma das árvores. "A maioria entendeu que não estávamos derrubando árvores sem razão." Mas, segundo o secretário, um caso ainda não foi resolvido: na lista das condenadas pelo IPT, a enorme falsa seringueira da Praça Marrey Júnior, em Perdizes, zona oeste, foi motivo de audiência pública na Subprefeitura da Lapa no mês passado. Em um acordo com a vizinhança, a Prefeitura se limitou a fazer uma poda de 30% da copa e determinou a realização de um novo laudo técnico, a cargo do Instituto Biológico, para saber se realmente é preciso cortar a árvore, que marca a paisagem da região com seus 17 metros de altura e 4 de diâmetro.
(Por Juliano Machado, O Estado de S. Paulo, 06/07/2006)
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