Quem passa hoje em frente ao Lixão da Caturrita, em Santa Maria, que recebe diariamente 160 toneladas de lixo, nota que a situação está um pouco melhor, se comparada com a do ano passado. O cheiro diminuiu e, visto de fora, o amontoamento de lixo parece reduzido. A lateral em frente à estrada de acesso está com menos lixo e mais cobertura de terra. Os catadores, porém, continuam lá, como também as casinhas improvisadas de alguns dos “moradores” do local.
Prefeitura e PRT afirmam que melhorias foram feitas no local desde o ano passado. Entretanto, segundo a Fepam, a aparência melhorada do lixão se deve ao fato de ter chovido pouco, identificando diversos problemas que precisam ser corrigidos. A Justiça determinou que o lixão tem de ser fechado ainda neste ano, ou seja, o lixo não deve mais ser depositado lá.
A secretária municipal de Proteção Ambiental, Ester Fabbrin, afirma que o local “não é mais um lixão. Foi um lixão por muito tempo, onde está se tentando fazer um aterro controlado.” Para isso, foram colocados drenos de gás e lixiviados (também conhecido como “chorume”, líquido produzido pelo lixo) e frentes de trabalho (taludes) onde se concentra o depósito de resíduos e sua respectiva cobertua com terra (aterramento). Segundo ela , a impermeabilização do solo (que caracteriza um aterro sanitário) é impossível de ser feita no local.
O que dificulta a transformação do lixão em aterro controlado, de acordo com a secretária, é a presença dos catadores, que, entre outras coisas, desenterram parte do lixo que já estava aterrado. Conforme o engenheiro da PRT (empresa que administra o lixão), Thiago Fiori, o trabalho dos catadores também estaria impedindo que a cobertura de terra seja feita de forma mais rápida. Os locais onde os catadores depositam o material que recolhem também seriam inadequados.
“Qual é a opção que nós temos?”, pergunta a secretária, em relação aos catadores. Ela argumenta que aquelas pessoas, se fosse impedida sua entrada no lixão, perderiam o seu trabalho e, conseqüentemente, a renda para comprar alimentos. De acordo com ela, o prazo para fechar o lixão terminaria em novembro deste ano.
Segundo o engenheiro da PRT, o projeto para a construção de um aterro senitário já foi aprovado pela Fepam, que já emitiu a licença prévia e a licença de instalação. A área onde será construído o aterro fica nas proximidades de onde hoje se encontra o lixão.
Entretanto, na opinião do engenheiro da Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam), José Antônio Mallmann, o lixão “não mudou muita coisa”. Segundo ele, a amenização do odor no local, como também a aparência melhor em algumas áreas, se deve à pouca freqüência atual das chuvas. Desta forma, o lixo não produz tanto líquido e contaminação.
Na vistoria mais recente que fez no local, ele identificou várias irregularidades. De acordo com ele, o chorume está infiltrando no solo, não foi feita a arborização das redondezas, parte do local não está cercada e a cobertura diária dos resíduos não está acontecendo, havendo montanhas de lixo de vários metros de altura. Parte deste problema seria devida à existência no lixão de um único trator, que só consegue “espalhar” o lixo.
Um monte de lixo
- 160 toneladas de lixo são enviadas diariamente ao Lixão da Caturrita. Prefeitura está tentando transformá-lo em um aterro controlado.
Catadores
Um catador de 23 anos que trabalha no lixão, afirmou ontem ser contra o seu fechamento, por não ter outra alternativa de renda. Ele diz trabalhar no local porque não conseguiu um outro emprego. Mas não gosta que chamem de lixo o que recolhe: “Não é lixo, é material”. Seu trabalho iniciou ontem ao meio-dia e terminaria à noite.
Às vezes o acompanha no serviço um de seus seis irmãos e sua cunhada. Ele mora com a mãe e diz guardar para si o dinheiro que consegue semanalmente, que às vezes chega a R$ 80,00, com o recolhimento de garrafas de plástico, latinhas e papel. Um catador menor de idade, que trabalha lá há um ano e meio, o acompanhava.
Em abril de 2005, a Fepam entrou com ação na Justiça contra a Prefeitura, pedindo, entre outras coisas, a suspensão do depósito de resíduos no local e o impedimento da entrada dos catadores, o que chegou a ser cumprido momentaneamente. Na época, a situação no lixão havia se deteriorado ainda mais devido às freqüentes chuvas. Antes disso, o Executivo Municipal havia descumprido três termos de compromisso ambiental assinados em conjunto com a Fepam, nos anos de 1990, 1998 e 2002.
(Por Lucas Casteli,
A Razão, 06/07/2006)