No último mês de junho, o Jardim Botânico do Rio de Janeiro comemorou um
aniversário especial. Um banco que armazena material genético de espécies
vegetais nativas do Brasil fez dois anos. Ainda invicto. É o único do
país. E hoje guarda 2.500 amostras de DNA - mais do que o dobro do número
esperado para esse período.
Um banco de DNA como o que existe no Rio serve para que, entre outras
coisas, no futuro seja possível realizar pesquisas com as diferentes
plantas. Ramos como o da filogenia, que estuda a evolução das espécies, e
a taxonomia, que trata da classificação delas, são áreas que podem ser
beneficiadas. Com a ajuda da biotecnologia também é possível separar
determinados genes do DNA das plantas e usá-los industrialmente para
produzir medicamentos e cosméticos.
Mas independentemente do destino dado ao material genético, só o fato de
haver mais esse registro da espécie no banco já significa uma importante
contribuição para a Ciência. Além do nome científico e da descrição das
características da espécie, o gene significa mais uma possibilidade de
investigação. “É uma forma de manter a representatividade da flora do
Brasil”, explica Sebastião Silva Neto, pesquisador do Jardim Botânico.
As plantas que abastecem o banco de DNA são coletadas em todo país - mas a
maioria das espécies vem da Mata Atlântica. Quando vão a campo realizar
seus estudos, os próprios pesquisadores do Jardim Botânico cedem amostras
de folhas para o banco. Num primeiro momento elas são cortadas em pedaços
e armazenadas em sacos com gel. No laboratório, já secas, são trituradas
e viram um pó. Reagentes químicos específicos são usados para isolar o DNA
das plantas, que é, então, guardado em um freezer a uma temperatura de
80o C negativos. As amostras ficam organizadas por ordem de chegada.
No banco do Jardim Botânico há uma coleção de 500 indivíduos de pau-brasil
e três mil amostras de bromélias, muitas delas provenientes do próprio
parque. Plantas da família da Amarilidácia, que está na lista das
ameaçadas de extinção, já contam também com lugar no banco. A escolha da
coleta é feita pelos próprios pesquisadores, que buscam as plantas que têm
interesse em pesquisar no futuro. “Espécies que foram extintas no passado
estão para sempre perdidas. O banco pode evitar que isso aconteça com as
ameaçadas.”, conta Sebastião.
Luciana Franco Scholte, chefe do laboratório de biologia molecular, revela
que o número de plantas existentes hoje no banco superou o que
inicialmente havia sido previsto pelo Jardim Botânico — que, aliás,
mantém o banco em parceria com a Companhia de Seguros Aliança do Brasil.
“A dificuldade de se levar o pesquisador a campo tem sido o maior
obstáculo para que esse número não cresça ainda mais”, revela Luciana.
Mas a hora agora não é de reclamar. Afinal, nenhum outro Jardim Botânico
brasileiro conta com um banco de DNA. “Seria importante que outros
projetos como esse acontecessem pelo Brasil. Cada local tem sua
particularidade de fauna e flora e merece ter um banco para armazenar
seu patrimônio”, afirma Luciana.
(Por Juliana Tinoco,
O Eco, 06/07/2006)