O governo de Santa Catarina fechou a divisa com o Rio Grande do Sul para o trânsito e o ingresso de aves e ovos, carne de frango, produtos cárnicos e subprodutos de origem avícola para qualquer finalidade. O anúncio foi feito após o alerta da Organização Internacional de Epizootias (OIE), confirmando a presença de um foco de Newcastle no RS.
O caso foi registrado, no dia 4 de maio, em galinha caipira de uma pequena propriedade que criava aves para subsistência no município de Vale Real, localizado no Vale do Caí. Mas a Instrução de Serviço 002/2006 da Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina (Cidasc) é temporária.
Segundo o diretor de Defesa Agropecuária da Secretaria de Agricultura de SC, Roni Barbosa, a proibição tem validade até que seja verificada a real dimensão do quadro. Ontem, o secretário de Agricultura de Santa Catarina, Felipe Luz, garantiu ao secretário da Agricultura gaúcho, Quintiliano Vieira, que irá estudar a abertura de um corredor sanitário após o envio de documento relatando as ações desenvolvidas. "Há possibilidade próxima de abertura de um corredor, mas não do ingresso em SC", destaca Barbosa. Hoje, autoridades catarinenses estarão reunidas para avaliar o caso.
As indústrias gaúchas consideram que o bloqueio é inconstitucional, pois nenhum estado aderiu legalmente ainda ao Plano Nacional de Prevenção à influenza aviária e de Controle da Doença de Newcastle, disse o presidente da Asgav, Aristides Vogt.
Conforme o coordenador de Sanidade Avícola do Ministério da Agricultura, Marcelo Mota, as regras prevêem o impedimento da circulação só de material genético e aves vivas. O superintendente do Mapa/RS, Francisco Signor, acusa os catarinenses de estarem revidando as restrições de trânsito impostas pelo RS em episódios sanitários recentes. O último caso de Newcastle no Brasil foi diagnosticado em 2001 em Goiás. O RS estava livre da doença havia 22 anos.
Avicultura em alerta
A avicultura gaúcha está em alerta. Embora os produtores e a indústria acreditem que o caso de Newcastle encontrado no município de Vale Real seja isolado e esteja controlado, o clima, ontem, era de temor com o uso comercial que os importadores e os estados concorrentes podem fazer do caso. "O mercado não é bom e nem ruim. É traiçoeiro", admitiu o superintendente do Ministério da Agricultura (Mapa) no RS, Francisco Signor.
A preocupação tem fundamento, já que 68,01% das 900 mil toneladas de carne de frango comercializadas pelo RS em 2005 foram destinadas à exportação. A situação é ainda mais alarmante se for levado em conta o impacto já causado pela gripe aviária ao mercado internacional. "O prejuízo econômico é incalculável", disse o secretário de Agricultura, Quintiliano Vieira.
A União Brasileira de Avicultura (UBA) enfatizou que o episódio reforça as insistentes cobranças feitas pela instituição pela destinação de recursos, em caráter emergencial, para o Plano Nacional de Prevenção da Influenza Aviária e de Controle da Doença de Newcastle. "Isso demonstra que o governo precisa dar a devida atenção à defesa animal por meio da destinação de recursos condizentes com a posição de liderança que ocupa no mercado externo", destaca nota da UBA.
Apesar disso, os representantes da indústria avícola fizeram questão de reforçar a confiança que depositam no sistema de defesa sanitária brasileiro. O diretor-técnico da Asgav, Éder Bardon, espera que as medidas evitem danos e preferiu não comentar o fato de a indústria ter sido informada sobre o foco somente na última terça-feira, 60 dias após o registro da suspeita. "Foi um caso em uma pequena propriedade de aves de subsistência em uma região isolada. Não há motivo para alarde", destaca o presidente da Asgav, Aristides Vogt.
O Mapa considera que as ações de saneamento desenvolvidas pelos governo estadual e federal e iniciativa privada serão suficientes para evitar o fechamento do mercado externo para todo o Rio Grande do Sul. O coordenador de Sanidade Avícola do Mapa, Marcelo Mota, acrescenta que estão sendo emitidos informes diários em diversos idiomas para tranqüilizar os importadores.
Segundo ele, o estabelecimento das áreas de proteção (3km) e de vigilância (10km) pode restringir possíveis bloqueios comerciais às zonas. Ontem, o Mapa divulgou nota técnica sobre o caso em reunião na Asgav.
Foco pode ter fim em 30 dias
O Ministério da Agricultura estima que, se não for registrado nenhum novo fato, o foco de Newcastle em Vale Real poderá ser dado como encerrado em 30 dias. Hoje, deve ser concluída a coleta de soros nas 30 granjas comerciais localizadas na zona de vigilância, que compreende uma distância de 10 quilômetros do foco.
O mesmo trabalho deve ser realizado em 120 pequenas propriedades localizadas na zona de proteção (3 quilômetros) até amanhã. Os exames sorológicos das amostras coletadas estão sendo feitos no Lanagro, em Campinas, no estado de São Paulo.
A propriedade infectada está interditada desde 4 de maio, após o criador informar a mortandade de 16 frangos à Secretária da Agricultura. O resultado do exame que detectou o foco da doença demorou 60 dias além do prazo habitual devido à contaminação bacteriana que levou à nova purificação das amostras. O restante dos 44 animais da propriedade foram eliminados, incluindo outras espécies. Sentinelas serão introduzidos na chácara na próxima semana.
No raio de 10 km do foco, só podem transitar aves para abate. Está proibido recebimento de pintos para alojamento. Veículos e pessoas estão passando por barreiras de desinfecção.
A única granja comercial no raio de 3 km possui 8 mil aves, que passarão por abate acompanhado em frigorífico com SIF. A propriedade será submetida ao vazio sanitário.
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Correio do Povo, 07/07/2006)