Obra sobre legado de Lutzenberger chega ao teatro
2006-07-07
Uma das atividades do Rincão Gaia que mais encantava o ecologista José Lutzenberger era a visita de escolas à propriedade de Pantano Grande, que ele transformou num paraíso natural. O ex-presidente da Fundação Gaia, falecido há quatro anos, relatava que as crianças do meio urbano, não mais habituadas ao contato com o verde, estranhavam a exuberância da paisagem no começo, mas logo se soltavam, descobrindo insetos, plantas, animais e sons diferentes.
Um retrato desses contrastes entre a vida em áreas rurais ou preservadas e a das “crianças de apartamento” é apresentada na peça “O Mundo é Assim”, que tem estréia para convidados no dia 1º de agosto, no teatro Bruno Kiefer. A partir do dia 8 de agosto, o espetáculo será oferecido gratuitamente para alunos do ensino fundamental de escolas públicas, estaduais e municipais.
O protagonista é Teco, um garoto que morre de medo de bichos. Brincando na praça de um condomínio fechado, onde os brinquedos estão construídos em meio ao concreto, ele começa a ouvir as narrativas de Lilly (Andréa Ayres) e Malú (Raquel Peruzzo), sobre sua visita ao Rincão Gaia e tudo o que aprenderam por lá.
A diversidade encanta o menino, que vai de reboque nas lembranças das amigas, imaginando as situações que elas viveram, abordando a separação do lixo, a preservação da fauna e da flora silvestre e a desconstrução do discurso de que animais silvestres são uma ameaça: “Uma cobra-coral só representa perigo quando se sentir atacada em seu ambiente, e, de qualquer forma, ela é necessária para a manutenção do equilíbrio”, exemplifica Christian Lavich Goldscmidt, idealizador do projeto.
O cenário da peça se divide entre o ambiente cinzento dos grandes centros urbanos, onde as crianças brincam protegidas pelas grades, e os tons esverdeados da mata. “Tentamos reproduzir as características do Rincão Gaia no palco”, relata Christian, que também assina o texto e a direção da peça – ao lado de Vera Pothhoff – e ainda vive o protagonista Teco.
As falas são intercaladas com música, coreografias e recursos cenográficos como os paus de chuva. Segundo Christian, apesar da simplicidade didática do texto, o espetáculo não é direcionado apenas às crianças, pois “aproxima e fortalece o espírito de encantamento e respeito com o mundo natural do qual somos apenas parte”.
Serão quatro apresentações diárias, sempre nas terças-feiras, a partir do dia 8 de agosto, duas sessões pela manhã e outras duas à tarde. O teatro tem capacidade para 200 pessoas, então é possível que sejam 800 espectadores por dia, ou 3.200 no mês, 16 mil crianças até o final do ano. E com todos alunos entrando de graça.
“O teatro é muito elitizado em Porto Alegre. Além disso, esses colégios necessitam atividades extra-classe, que retirem um pouco as crianças das salas de aula”, justifica Christian Goldscmidt. Escolas interessadas devem entrar em contato com as respectivas secretarias de educação. Para escolas municipais de Porto Alegre, o telefone é: 3289.1846 ou 3289.1837. Para escolas estaduais: 3288-4813 ou 32884874.
Projeto tem incentivo da LIC
A peça “O Mundo é Assim” é resultado de uma parceria entre Fundação Gaia, Oficina de Teatro Olga Reverbel e Casa de Cultura Mario Quintana. Através da Lei Estadual de Incentivo à Cultura (LIC), as instituições conseguiram captar R$ 193 mil de patrocínio, oferecido pela Multilab Indústria Farmacêutica, ainda em 2004.
O espetáculo só está saindo agora pela demora na liberação da verba, em virtude dos entraves burocráticos do Esado. O atraso determinou o corte de alguns gastos para a temporada. “Escrevemos quinze músicas para gravar num CD e distribuir à platéia, mas o valor desse investimento triplicou nesses anos e tivemos que abandonar a idéia”, lamenta Christian.
Além da montagem de “O Mundo é Assim”, a Multilab bancou a revitalização do Jardim Lutzenberger, no 5º andar da Casa de Cultura. “Estamos remodelando o projeto paisagístico e iremos incluir canteiros com espécies típicas de ambientes áridos, plantas medicinais e ervas aromáticas”, conta Christian.
Conversa com Capra
Christian Lavich Goldscmidt pensou no espetáculo há três anos depois de ouvir o físico norte-americano Fritjof Capra, em que ele contou sua experiência no Cetro de Eco-Alfabetização que mantém em Berkley, na Califórnia.
Amigo de Lutzenberger e autor de diversos livros como O Tao da Física e O Ponto de Mutação, Capra aproveitou a participação no Fórum Social Mundial para visitar o Rincão Gaia, sede rural da fundação que leva o mesmo nome.
Por Naira Hofmeister, especial para o Ambiente JÁ