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2006-07-06
Três assentamentos rurais do norte fluminense promovem há um ano uma iniciativa pioneira no país. Por conta própria, os trabalhadores criaram uma feira alternativa de alimentos orgânicos na cidade de Campos dos Goytacazes. Lá, eles vendem, sem a intervenção de atravessadores, frutas, legumes, ovos, aves e hortaliças que produzem.

De acordo com o Instituto Nacional de Reforma Agrária (Incra), a feira é a única do país totalmente organizado por assentados. A iniciativa começa a se expandir e já contribui para triplicar a renda mensal das 25 famílias de assentados que participam do projeto.

A idéia da comercialização direta surgiu quando os colonos dos assentamentos de Zumbi dos Palmares, Che Guevara e Antonio Farias se reuniram para buscar uma saída econômica e política de escoar a produção local.

Um dos coordenadores do projeto, David Barbosa do Nascimento, assentado desde 1998, explica que, antes, a produção era vendida para atravessadores. Eles pagavam entre R$ 5 e R$ 1 por uma caixa de quiabo, dependendo da época do ano. "Hoje temos feirantes, entre os assentados, que têm rendimento de R$ 600 a R$ 800 por mês. Antes era bem menor e esse valor era de R$ 200 a R$ 300 por mês", calcula David.

A primeira feira foi realizada em abril de 2005 no Parque Tamandaré, em frente ao Colégio Salesiano de Campos, no centro da cidade, onde se tornou tradicional, ocorrendo toda sexta-feira. Há um mês, uma edição menor da feira alternativa vem sendo promovida às terças-feiras na Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf). Uma terceira feira será realizada em breve na localidade de Guarus, que fica do outro lado do Rio Paraíba do Sul.

O engenheiro agrônomo, Leopoldo Coutinho, que presta assistência técnica no assentamento Zumbi dos Palmares, conta que os agricultores da região sempre plantaram, diversificando a produção, sem a utilização de agrotóxicos, mas só agora perceberam que podiam tirar proveito dessa opção. O assentamento é o maior produtor da região, reunindo 506 famílias em oito mil hectares, onde anteriormente só se plantava cana-de-açúcar, lavoura tradicional de Campos.

Segundo ele, o objetivo dos assentamentos é atender o mercado interno da cidade, que consome, principalmente, produtos que são trazidos das Centrais de Abastecimento (Ceasa) do Rio de Janeiro e de Vitória (ES), e que chegam mais caros à região.

A produção orgânica dos assentamentos do norte fluminense conta com o apoio do Programa de Agricultura Familiar do Instituto Nacional de Reforma Agrária (Incra), da Pastoral da Terra, do Movimento dos Sem Terra do Rio de Janeiro e, recentemente, de bolsistas do Laboratório de Fitotecnia da Uenf.

Os colonos também recebem treinamento em homeopatia para evitar pragas em lavouras na Escola Ecológica, criada em parceria pelas universidades federais Fluminense (RJ) e de Viçosa (MG) e da Estadual do Norte Fluminense (Uenf). Na região, será criado, também, um entreposto para reunir a produção dos assentamentos e de pequenos produtores, cujo projeto já foi aprovado pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA).

O superintende do Incra no Rio de Janeiro, Mário Lúcio Mello, lembra que todos os sete assentamentos criados no estado no ano passado e os três que estão em estruturação esse ano são estimulados a seguir a linha agro-ecológica para estabelecer um diferencial. "Acho esse caminho excelente para a qualidade, o respeito ao meio ambiente e respeito à população", afirma Mello.
(Por Norma Nery, Agência Brasil, 05/07/2006)
http://www.radiobras.gov.br/materia_i_2004.php?materia=269017&q=1&editoria=

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