Sobem para dez as plantações ilegais de algodão no Mato Grosso
2006-07-06
O Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) confirmou que até terça-feira
(4/7) 10 propriedades em Mato Grosso foram autuadas por usarem sementes
de algodão geneticamente modificadas. Alguns cotonicultores do Estado já
receberam as notificações por terem desrespeitado a lei que trata das
normas de segurança e mecanismos de fiscalização das atividades com
organismos transgênicos. Eles têm prazo de 15 dias para manifestar defesa.
Além da autuação, os infratores terão de pagar multas que variam de R$ 2
mil a R$ 1,5 milhão. Toda a produção cultivada com algodão transgênico
será apreendida e está sujeita à destruição química ou mecânica. A
produção de sementes transgênica não é autorizada no Brasil, por isso o
plantio desta variedade é considerada ilegal.
Tanto a colheita do algodão transgênico como a abertura de vala e limpeza
dos equipamentos serão acompanhada por fiscais do Mapa. “Quem tiver
algodão transgênico vai perder tudo. Inclusive, quem está como fiel
depositário não deve comercializar a produção apreendida”, aconselha
Josandra Oliveira, assessora técnica da Superintendência Federal de
Agricultura (SFA).
A Comissão de Biossegurança de Organismos Geneticamente Modificados
inspecionou 26 lavouras de algodão em Mato Grosso, equivalente a 56 mil
hectares. Destes, em 1.827 mil hectares foram encontradas plantações de
algodão geneticamente modificado, representando 3,29% das propriedades
fiscalizadas.
De acordo com o fiscal federal e coordenador de Biossegurança, Marcus
Vinícius Segurado Coelho, as regiões que mais concentram a produção ilegal
estão nos municípios de Campo Verde e Primavera do Leste. Coelho lembra
que o número de propriedades com algodão pirateado pode aumentar, já que a
vistoria continua. “A fiscalização está sendo realizada na área de
cultivo. Depois faremos inspeção na fase de beneficiamento de algodão”,
destaca.
De acordo com o coordenador de Biossegurança, a única tecnologia
transgênica autorizada pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança
(CTNbio) para a cotonicultura é a Bollgard, popularmente conhecida como
BT, resistente a algumas pragas da lavoura.
“Foi autorizada com restrições de não ser plantadas em algumas regiões”,
ressalta. As sementes ilegais encontradas são da tecnologia Roundup Ready
(RR), não autorizada para a cultura do algodão, somente para a
sojicultura. Ambas tecnologias pertencem a multinacional Monsanto.
Desde maio deste ano, fiscais do Mapa estão percorrendo lavouras de
algodão nos estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e
Bahia. Dos 115 mil hectares já fiscalizados, 16 mil hectares são de
lavouras de algodão transgênico, correspodendo a 13,2% da área
inspecionada. O plantio de algodão ilegal pode chegar a 200 mil/ha.
Associação vai defender os Produtores que burlaram a lei
Embora a Associação Mato-grossense dos Produtores de Algodão (Ampa)
oriente os produtores rurais a não plantarem o algodão transgênico, ela
defenderá os cotonicultores que burlaram a lei e foram autuados pelo
Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) com plantação ilegal.
Conforme divulgado ontem no Diário, a entidade externará o direito de
defesa dos produtores que plantaram algodão transgênico.
A Ampa entende que assim como a tecnologia Bollgard (BT) foi liberada para
o cultivo na cotinocultura, a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança
(CTNbio) deve liberar o gene Roundup Ready (RR), que garante, conforme a
entidade, vantagens no custo de produção maior que a BT, por ser mais
eficiente no controle de ervas daninhas.
“A não liberação do uso de outros genes modificados é questão política. E
a liberação da BT também foi política.
O Ministério precisa reaver o diagnóstico técnico já enviado para a
Comissão que mostra que não há riscos para a saúde humana.
“Além do mais, o uso das sementes transgênicas possibilita a aplicação em
menor quantidade de agrotóxico nas lavouras”, relata o produtor Álvaro
Sales, responsável pela área de Biotecnologia e Assuntos Técnicos da Ampa.
Para Sales, é a burocracia brasileira que impede a liberação de sementes
transgênicas para o algodão. “Isso atrasa a expansão da produção de
algodão”, avalia.
(Por Julianne Caju, Diário de Cuiabá, 05/07/2006)
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