Cientistas estão divididos sobre clonagem dez anos depois da Dolly
2006-07-05
Dez anos depois do nascimento da ovelha Dolly, a primeira clonagem de mamífero obtida a partir do núcleo da célula de uma ovelha adulta, a comunidade científica britânica está dividida quanto à utilidade real desta técnica para o homem.
A ovelha criada pelo Instituto Roslin de Edimburgo, em 5 de julho de 1996, despertou a esperança de que a clonagem, particularmente a terapêutica, permita tratar doenças como o câncer, o mal de Alzheimer e outros males degenerativos, mediante o desenvolvimento de células-tronco embrionárias. Dez anos depois, o professor Ian Wilmut, o "pai" da Dolly, reconheceu estar "decepcionado com os avanços feitos".
Em declaração nesta quarta-feira à emissora de rádio e TV britânica BBC, Wilmut contemporizou, afirmando que uma tecnologia como a clonagem "não chegará à maturidade até dentro de 50 anos". Desde que os cientistas escoceses anunciaram o nascimento da Dolly, a clonagem reprodutiva tem sido amplamente imitada na área animal.Dolly foi seguida por cavalos, touros, porcos, ratos, coelhos, gatos e cães, e a indústria da clonagem de animais domésticos está em pleno auge nos Estados Unidos.
A clonagem "é uma descoberta científica notável, ninguém nega", reconheceu nesta quarta-feira Susan Meyer, diretora da GeneWatch, uma organização que supervisiona os avanços da ciência no campo genético."Mas me pergunto se (a clonagem terapêutica) é a melhor forma de lutar contra os problemas de saúde dos seres humanos", acrescentou."Tentar prevenir as doenças é menos rentável, está claro, mas no entanto é melhor para a saúde", enfatizou a cientista."Dolly criou uma onda de falsas esperanças (...), acreditava-se que a clonagem fosse o remédio mágico para todas as doenças", denunciou Helen Wallace, também integrante da GeneWatch.
No entanto, o doutor Simon Best, presidente da Associação Britânica de Biotecnologia e fervoroso defensor da clonagem terapêutica, está convencido de que esta tecnologia permitirá importantes resultados no futuro.O nascimento da Dolly "provocou uma enorme onda de criatividade e acho que veremos os resultados em 20 ou 30 anos", garantiu o especialista, tentando reduzir a importância da lentidão dos avanços feitos neste campo."A descoberta da clonagem foi tão revolucionária quanto a do DNA nos anos 50, e foram precisos entre 30 e 40 anos para começar a ver os benefícios práticos", destacou.
Além deste debate entre cientistas, Dolly - que foi sacrificada em 14 de fevereiro de 2003, devido a uma doença pulmonar incurável - continua sendo um mito.E mesmo que a clonagem reprodutiva humana tenha sido proibida pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), a clonagem terapêutica ainda alimenta muitas esperanças.
O problema é que ninguém controla ainda a produção do material genético de células embrionárias. E o único cientista que supostamente teria conseguido a transferência nuclear a partir de um embrião obtido por clonagem, o sul-coreano Hwang Woo-suk, revelou-se um charlatão.
(AFP, 05/07/2006)
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