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2006-07-04
Em uma época em que tanto se discute sobre a escassez de combustíveis fósseis dentro de algumas décadas, tecnologias baseadas em fontes renováveis são sempre bem-vindas. E se estão associadas a um programa de reciclagem e despoluição quase caseiro, melhor ainda. É o caso de um projeto desenvolvido na cooperativa Ecocitrus, de Montenegro (RS). Ali, alguns veículos estão rodando à base de óleo vegetal usado na fritura de alimentos. O “combustível” é recolhido diretamente de cozinhas de restaurantes.

“Era um material que antes ia para o lixo e contaminava o meio ambiente”, conta Paulo Roberto Lenhardt, que se define como um curioso sobre agroecologia. Ele estuda e trabalha com o assunto há 30 anos e é discípulo direto de José Lutzemberger. Recentemente, Lenhardt percorreu os mais de 800 km que separam Montenegro de Curitiba (PR) para participar do Seminário de Tecnologias Energéticas de Futuro com uma picape movida 100% a óleo vegetal. Ele garante que o veículo não fica devendo nada para os modelos à gasolina, álcool ou diesel. A picape foi doada pela Fundação Avina. “A proposta é desmontar o motor assim que ele atingir 80 mil quilômetros para produzir um estudo detalhado sobre o desgaste das peças com o consumo de óleo vegetal”, explica.

Para se ter um veículo movido a óleo vegetal é necessário adaptar um motor a óleo diesel. Segundo Lenhardt, o custo varia muito, de mil a cinco mil reais, dependendo da qualidade que se quer atingir. São necessários componentes que deixem a viscosidade a mais próxima possível do óleo diesel. Caso contrário, a vida útil do motor é encurtada.

O Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) não reconhece o uso de óleo vegetal como combustível. “Apesar disso, é um combustível muito barato. O custo é o de recolhimento e limpeza, o que não passa de 30 centavos por litro”, comenta o engenheiro florestal Stefano Dissiuta, um dos técnicos da Ecocitrus.

Segundo o pessoal da cooperativa, as vantagens na adoção desse combustível são: melhor lubrificação interna do motor; 40% menos emissão de fuligem e, no geral, 75% menos poluição; emissão de menos carbono na atmosfera do que o seqüestrado pela planta; e despoluição de esgotos com a reciclagem do óleo usado em restaurantes.

Edição limitada
Contudo, o processo tem seus limites. Não há óleo reciclável suficiente em Montenegro, que tem 60 mil habitantes, para colocar uma frota de veículos inteira movida a óleo de cozinha na rua. A quantidade reciclada hoje é suficiente para manter apenas 10 picapes rodando. Por isso, já está começando o próximo passo do projeto, que diz respeito à recuperação do plantio de tungue, uma oleaginosa que vive cerca de 80 anos e foi bastante utilizada no pós-guerra como lubrificante. A idéia é usar o tungue, que tem uma produtividade bastante superior à soja na produção de óleo, para produzir diretamente óleo vegetal combustível e, com isso, proporcionar a independência energética dos produtores. Além disso, os resultados desse e de outros projetos da Ecocitrus são replicados em cooperativas, associações e comunidades que fazem parte da Rede Ecovida de Agroecologia, que abrange os estados da região Sul.

Permacultura
A Ecocitrus é uma cooperativa fundada em 1994 por 15 agricultores e que hoje conta com 43 famílias associadas e outras 60 que se beneficiam dos projetos desenvolvidos. O sistema de trabalho está baseado na permacultura, que abrange uma forma de produzir ambientalmente correta. Ou seja, de forma sustentável e com baixo custo de produção, conforme explica Lenhardt.

A proposta é que o produtor assuma toda a cadeia produtiva, desde a produção de insumos, organização social, formação, geração de tecnologia, certificação, industrialização até a comercialização. A produção de frutas cítricas, principalmente tangerina, chega a 5 mil toneladas/ano e 20% desse volume são transformados em sucos, comercializados em supermercados com a marca Ecocitrus.

O sistema todo é resultado de 14 anos de pesquisas. A cooperativa cuida da produção própria de insumos, feita na usina de compostagem. Ela absorve resíduos de 23 agroindústrias da região, entre fabricantes de tanino, laticínios, cerveja e fumo. Ali são produzidos biofertilizantes e compostos para recondicionamento de solo, que são aplicados diretamente sobre os pomares – mas isso depende do estágio da propriedade. Há áreas mais avançadas nas técnicas agroecológicas em que não se aplica adubo há quatro anos.
(Por Romeu Bruns, O Eco, 30/06/2006)

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