O jornalista –ambientalista Vilmar Berna, editor do
Jornal do Meio Ambiente vem sofrendo ameaças anônimas de morte desde o final de 2005. Em 28 de maio deste ano, sua esposa atendeu um telefonema tarde da noite de uma mulher não –identificada ameaçando sua família. “Disse que não passaríamos daquela noite”, recorda Berna.
Uma semana antes, um vizinho do jornalista chamado Maurício – que durante o carnaval construíra junto com um outro chamado Júlio, um píer em frente a casa de Berna, contra sua vontade - disse que, “por seu amigo”, avisava que ouvira falar que um grupo estaria se organizando para aplicar uma “coça” no mesmo.
Vilmar Berna conta ainda que no mesmo mês, o ambientalista e amigo “Wagner”, do CREA-RJ, ligou para lhe dar a mesma informação, dizendo que tinha chegado aos seus ouvidos que pessoas estavam se organizando "para lhe dar uma coça e sumir com o corpo no mar".
O clímax das ameaças foi quando deixaram um cadáver ensangüentado de uma pessoa assassinada a pauladas e com queimaduras na porta de sua casa, no bairro de Cascarejo, um antigo cartão postal de Niterói (RJ), agora completamente degradado por ocupações irregulares e despejo de esgotos no mar.
“Existem motivos reais para me preocupar e tomar minhas precauções”, diz ele, que já encaminhou pedido de proteção e segurança de vida à 79ª Delegacia de Polícia (Jurujuba - Niterói), a quem comunicou os fatos, o que deu origem ao Registro de Ocorrência nº 001702/0081/6.
Berna também pediu ajuda e proteção à Comissão de Direitos Humanos da Câmara Municipal de Niterói e à Assembléia Legislativa do Estado, através do deputado Alessandro Calazans, entre outros.
Hoje (4) o jornalista será recebido pelo chefe de gabinete do coronel Jorge da Silva, do Rio de Janeiro, para levar um dossiê sobre o assunto. Berna ainda levará o caso ao Secretário Nacional de Direitos Humanos, Paulo de Tarso Vanuch, em Brasília. “Além do cuidado de dar transparência a estes fatos, instalei sistema de câmera com gravação em vídeo e, nos últimos dias, contratei segurança para me proteger e à minha família”, afirma.
Sobre possíveis autores das ameaças, Berna diz: “Não tenho como identificar. Podem ser alguns dos fatos antigos que retornam. Muitas pessoas sentiram-se prejudicadas por mim depois que as denunciei por agressões ao meio ambiente, e resolvem se vingar”, suspeita.
Ele cita como exemplo, uma denúncia sua em 2003, sobre pesca predatória de filhotes de sardinhas para uso como isca para atum, na enseada de
Jurujuba e
Icaraí, em que os barcos chegavam até a beira de Icaraí, e que deu origem a um inquérito na Polícia Federal (nº
089/2003), que investiga o caso.
“Ao longo de minha vida como ambientalista sofri diversas ameaças de morte e aprendi que, diante delas temos duas saídas, ou nos acovardamos e pedimos aos Céus para que nos proteja, ou damos transparência a estas ameaças, para que os nossos pretensos ameaçadores tenham certeza de que se algo nos acontecer responderão por isso diante das autoridades”, crê.
As tais ameaças também podem estar ligadas a fatos da própria comunidade de onde Berna faz parte. Segundo ele, muitas pessoas sentiram-se prejudicadas quando comprou a casa onde mora, porque era um
point do pessoal para consumir drogas e doses alcoólicas exageradas.
“Logo que vim para cá, reuni-me com essas pessoas e entramos num entendimento e
hoje, apesar de passarem diariamente à minha porta, não criaram mais nenhum
problema, logo, não imagino que possa estar partindo deles”, lembra.
Alguns meses antes, porém, Berna procurou o então administrador regional da Prefeitura, Cláudio Fera, que foi até sua casa onde o jornalista lhe apontou a situação de sujeira na praia, hoje tomada por cascas de mexilhão que provocam cortes nos pés dos
banhistas, e devido seu volume, estaria aterrando até a Baía de Guanabara.
“Pedi que ajudasse na reorientação das atividades de descasque dos mariscos para dar um
aproveitamento adequado a estas cascas impedido sua transformação em resíduos. Me ofereci para buscar uma solução talvez com a instalação de uma máquina que
transformasse as cascas em pó facilitando assim a sua retirada”, conta.
Na mesma ocasião, o jornalista disse que chamou a atenção para o problema do acesso à praia, que passa em frente à sua casa. “O costão de pedra é irregular pois serviu de jazida para a construção do antigo cais das barcas. Pedi ao Administrador que construísse uma passarela para facilitar o acesso principalmente de crianças e idosos”.
O homem lhe disse que a prefeitura não tinha recursos para fazer uma passarela, mas que se dispusesse de recursos ele próprio poderia fazer. “Hoje, este administrador não está mais no cargo e o novo pediu-me que não fizesse qualquer obra, o que atendi”, afirma.
Foi o que bastou para dar origem a intrigas, mentiras e fofocas. “Rapidamente as pessoas
formaram um conceito de valor negativo contra a minha pessoa, sem nem sequer me conhecer ou vir falar comigo sobre a minha versão dos fatos”, lamenta.
Na boca das pessoas que consideram a presença do jornalista uma ameaça às suas atividades, o que era passarela virou uma
Muralha da China . Passaram a acreditar que ele teria feito tudo isso para impedir o aceso das pessoas à praia.
“E ainda que eu esclarecesse o assunto, as difamações continuaram, pois na verdade têm pessoas que não querem ser esclarecidas, mas por inveja ou ressentimentos, sentem prazer em saber que estou sendo perseguido e ameaçado. O invejoso não quer ter o que temos, ou ser o que somos, mas quer que não tenhamos o que temos nem sejamos o que somos, ainda que não obtenha qualquer vantagem pessoal com isso”, filosofa.
Por Carlos Matsubara