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2006-07-04
Prevenir, controlar ou erradicar. Esses são os caminhos apontados por Lídio Coradin, gerente de Recursos Genéticos da Secretaria de Biodiversidade e Florestas do Ministério do Meio Ambiente (MMA), para combater as espécies exóticas invasoras no Brasil.

"O caminho mais fácil é prevenir a entrada. Sensibilizar as pessoas para não introduzirem novas espécies no meio ambiente sem o devido conhecimento. Caso seja introduzido, precisamos tentar erradicar", analisa.

O especialista admite que a erradicação nem sempre é possível e na maioria das vezes o Brasil acaba adotando o controle, que acaba sendo a alternativa mais cara para o Ministério, em razão dos vários aspectos envolvidos, social, ecológico e econômico.

“O problema é, sem dúvida, seriíssimo. O país gasta mais de US$ 50 bilhões por ano no combate às espécies exóticas. O trabalho vai desde uma pequena lavoura até grandes extensões de monoculturas com espécies tradicionalmente conhecidas como invasoras de grande intensidade”, explica o engenheiro agrônomo.

O combate a animais (como o mexilhão-dourado), plantas (como diferentes tipos de árvores) e microrganismos (como fungos e bactérias) que se convertem em pragas foi uma das principais questões tratadas durante o 3° Fórum de Espécies Exóticas Invasoras, realizado ontem (03/07) na Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre. O evento contou com parceiros como o Instituto para o Desenvolvimento de Energias Alternativas e de Auto Sustentabilidade (IDEAAS), o Instituto Hórus e o The Nature Conservancy (TNC).

Na avaliação de Coradin, que participou do Fórum, o MMA deve olhar a situação em âmbito nacional, mas deve, também, incentivar os estados para que se organizem. “À medida que o ministério tiver projetos de outros estados semelhantes a esse debate proposto pelos gaúchos ficará mais fácil ter um conhecimento da situação. É difícil trabalhar nacionalmente se você não tiver levantamentos sobre as espécies exóticas nas células estaduais”, sinaliza.

Para isso, aponta a necessidade de expandir o debate para outras regiões do país. “Precisa, no mínimo, um estudo em cada uma das regiões, além dos diferentes biomas. Ou seja, pesquisar as regiões Sul, Sudeste, Centro-Oeste, Nordeste e Norte, sem deixar de trabalhar os diferentes biomas, como o Pampa, Serrado, Caatinga, Mata Atlântica e Amazônia, de forma que facilite o entendimento e a extensão do problema”.

Rio Grande do Sul como Estado-Modelo
Segundo Coradin existe o trabalho com espécies exóticas invasoras em todos os estados da federação, mas de forma pontual. “É um município, uma empresa ou uma instituição envolvida. O que nós estamos tentando fazer é ampliar esse trabalho que está sendo feito no RS, onde os mais diversos setores da sociedade estão envolvidos num projeto conjunto de atacar esse inimigo de uma forma organizada”.

Falta, em sua avaliação, os demais estados fazerem com que os segmentos da sociedade se organizem e criem fóruns de debate envolvendo representantes da área governamental e não-governamental, privados e não privados. “A única forma de combatermos as invasoras é fazer com que os diferentes setores se organizem para poder debater quais são os problemas e as prioridades, assim como exemplos de sucesso no combate às espécies, para daí encontrarmos soluções e levar para os outros estados”.

Capim Annoni e Mexilhão-dourado
De árvores a microorganismos, essas espécies trazem prejuízos à economia, à diversidade biológica e até à saúde. No Brasil, problemas graves são causados por espécies como mexilhão dourado, pinus, caramujo africano e capim annoni “que não exercem nenhuma importância econômica no País”, segundo o representante do MMA, “apenas geram perdas”, completa Fábio Rosa, do Instituto IDEAAS.

Segundo Coradin, o mexilhão-dourado, originário da Ásia, é um exemplo de espécie exótica invasora que se transformou em praga no Brasil, principalmente no Pantanal mato-grossense. "Ele se distribui muito rápido por causa das embarcações que entram e saem na região", explica. "É difícil fiscalizar todos os barcos. Nós teríamos que pegar barco por barco e pulverizá-los. Esse é hoje um problema grave, mas não estamos conseguindo uma forma de solucioná-lo porque isso tem um impacto econômico muito forte", diz.

Números trazidos por Rosa mostram a crescente expansão do capim annoni no Rio Grande do Sul. De acordo com dados da Embrapa, esta gramínea africana introduzida no Estado na década de 60 respondia por cerca de 20 mil hectares invadidos em 1978. Quase duas décadas mais tarde, em 1993, a quantidade havia aumentado para 400 mil hectares. Desse total, segundo a Embrapa, 30% são áreas intensamente invadidas, ou seja, áreas onde não se encontra nenhuma outra espécie além do capim annonis.

Análise do próprio IDEAAS informa que no ano passado, cerca de 1.558 milhão de hectares foram ocupados por esta espécie. “Em 2005, a área totalmente invadida por capim annoni responde por 700 mil hectares, ou seja, já é a monocultura do Annoni”, comenta Fábio Rosa. Seguindo nesta mesma projeção, em 2008 e 2015 teríamos, respectivamente, 2.200 milhões de hectares e 4.840 milhões de hectares invadidos pela gramínea. “Resulta numa diminuição muito grande da área de campos naturais, além de um arrefecimento nessas áreas na produção de bovinos”, acrescenta.

Atualmente, a área de campos naturais do Rio Grande do Sul é de 12 milhões de hectares, segundo Rosa, e o capim annoni vem ocupando áreas que tradicionalmente eram usados por atividades de produção pastoris, principalmente com bovinos e ovinos. “Esse processo de ocupação e de substituição da flora nativa por uma única espécie gera a extinção da biodiversidade e causa impacto à produção econômica do RS. Fizemos um cálculo e o Estado, até 2015, deverá ter uma perda em torno de US$ 600 milhões por aquilo que deixou de produzir nesse ambiente onde antes existia produção pastoril. A perda de impostos fica em torno de US$ 120 milhões”, informa.

Diante deste problema, o representante do IDEAAS sugere um maior apoio ao desenvolvimento de Políticas públicas consistentes capazes de diminuir a “dispersão de sementes e mudas”, maior investimento em pesquisas, dada a urgência em trabalhar a questão do inimigo natural que é o capim anonni, além de pesquisas de método de manejo agropecuário intensivo como forma de controle e para a produção de sementes de espécies nativas.

Comparação com outras espécies invasoras
O passivo provocado pelo capim annoni é maior do que o causado por árvores exóticas como o eucalipto e o pinus, segundo Fábio Rosa. O prejuízo também acontece com maior velocidade. “As outras espécies têm uma importância econômica e são introduzidas pela atividade humana. Com o capim annoni isso não ocorre. Para o eucalipto e o pinus, por exemplo, há o plantio e o processo de disseminação e ampliação da invasão se dá de forma mais lenta, além de haver a possibilidade de se fazer o controle”.

Outro aspecto apontado é o fato de a expansão desta gramínea não proporcionar benefícios. “Só há perdas. Perdas para a biodiversidade, perdas na esfera econômica e também social, por que vai progressivamente impactando o espaço onde a atividade humana ocorria. Tudo isso corrobora para a diminuição da possibilidade de um desenvolvimento sustentável econômico”, finaliza.

Câmara Técnica
O MMA está ciente dos problemas causados pelas espécies invasoras e adianta que está procurando fortalecer uma política nacional. “Essa é uma das prioridades do Ministério e estamos desenvolvendo parcerias no âmbito federal, estadual e municipal. Com o Ministério da Agricultura estamos vendo mecanismos para nos organizarmos na prevenção”.

Além disso, será criada uma Câmara Técnica Permanente com o objetivo de “olhar especificamente para os problemas causados pelas Espécies Exóticas Invasoras. Trata-se de um espaço que proporcionará o amadurecimento do debate técnico para tentar levar soluções para a comissão nacional de biodiversidade e para que o MMA possa tomar decisões sobre o que fazer, como fazer, criando estratégias em âmbito nacional para o problema”, afirma o representante do Ministério.

A Câmara Técnica será formada por representantes do governo e da sociedade. Há previsão de ser aprovada pela Comissão Nacional de Biodiversidade no próximo mês de agosto.

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Por Tatiana Feldens

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