Chile estuda criar nova área protegida para o maior mamífero do mundo
2006-07-04
O Golfo de Corcovado, que, no sul do Chile, abriga por cerca de cinco meses ao ano centenas de baleias azuis em busca de alimento, está em vias de ser transformado em área marinha e costeira protegida. A baleia azul é o maior animal do mundo (pode passar de 30 metros de comprimento) e é ainda considerada em risco de extinção, já que a indústria baleeira reduziu sua população a 3% no hemisfério sul. Os cetáceos desta espécie começaram a ser observados em 1999 por um grupo de cientistas no mar vizinho à ilha de Chiloe e do Golfo de Corcovado, entre as regiões X e XI do país, mil quilômetros ao sul de Santiago.
Segundo as pesquisas mais recentes, estes gigantescos mamíferos chegam junto com seus filhotes à região para se alimentar de krill, um crustáceo encontrado em abundância nesse lugar, e deixam a costa chilena entre junho e julho. Esta descoberta contradiz os tradicionais postulados científicos segundo os quais a baleia azul (Baladenoptera musculus) no verão migra para os pólos em busca de comida e no inverno se dirige aos trópicos para dar à luz e se acasalar. Considerando a importância mundial da descoberta, a Comissão Regional do Meio Ambiente (Corema) da região X de Los Lagos, a Universidade Austral do Chile e o Centro Baleia Azul (CBA) elaboraram, em 2003, uma proposta técnica para transformar o setor em Área Marítima e Costeira Protegida de Múltiplos Usos (AMCP-UM), categoria diferente de um santuário natural.
“Optamos por uma categoria mais ampla, de manejo integral de ecossistemas, que deriva do Protocolo da Comissão Permanente do Pacífico Sul” (criada em 1952 por Peru, Equador, Colômbia e Chile), explicou ao Terramérica Rodrigo Hucke-Gaete, pesquisador do CBA. “Pode-se declarar uma grande área marinha e costeira protegida, combinando a proteção do ecossistema e as atividades produtivas que ali são realizadas”, acrescentou. Em 2004 e 2005, foi realizada uma série de “painéis de socialização” para divulgar publicamente a proposta, com a participação de representantes do governo central, autoridades locais, empresários da indústria do salmão e do turismo, além da comunidade.
A iniciativa tem o apoio de todos os setores, inclusive dos dois multimilionários que possuem terrenos vizinhos ao Golfo de Corcovado: o empresário e ecologista norte-americano, Douglas Tompkins, e o ex-candidato à presidência do Chile pela oposição direitista, Sebastián Piñera. Uma vez aperfeiçoada, a proposta foi apresentada à Comissão Regional do Uso da Margem Costeira da Região X, integrada por autoridades governamentais e representantes dos setores produtivo e turístico da região, que a aprovou em março por unanimidade.
Agora está nas mãos da comissão do mesmo nome da região XI. Se a resposta desta entidade também for positiva, deverá ser estudado pelos ministérios da Defesa e da Economia e pela Secretaria Geral da Presidência, que deverão emitir um decreto para, finalmente, ser assinado pela Presidência da República. O Chile já declarou três áreas marítimas e costeiras protegidas de múltiplos usos, graças ao projeto “Conservação da biodiversidade de importância mundial ao longo da costa chilena”, desenvolvido pela governamental Comissão Nacional do Meio Ambiente (Conama) desde 2005.
A Conama apresentou este projeto ao Fundo para o Meio Ambiente Mundial (GEF, sigla em inglês) para apoiar, em uma primeira fase (2005-2010), a designação de três áreas protegidas e preparar um completo sistema de administração. A longo prazo, o organismo pretende formar uma rede de áreas protegidas, fortalecendo as associações público-privadas e promovendo o ecoturismo. “Neste momento, nosso principal objetivo é criar um contexto institucional regulamentar e de gestão nacional das áreas marítimas e costeiras protegidas”, disse ao Terramérica o coordenador nacional do projeto, Roberto de Andrade.
As três áreas declaradas são Punta Morro-Río Copiaopó, na região III de Atacama; Lafken Mapu Lahual (Mar e Terra de Alerces), na região X de Los Lagos, e Francisco Coloane, na região XII de Magalhães. O projeto tem orçamento de US$ 11 milhões, dos quais US$ 6,1 milhões investidos pelo governo do Chile, US$ 3,8 milhões pelo GEF e US$ 1,1 milhão pelo setor privado. Rodrigo Hucke-Gaete tem esperança de que, no final deste ano, o Golfo de Corcovado alcance esta categoria, o que permitiria estudar o comportamento das baleias azuis em um contexto mais seguro. Apesar de este lugar não integrar a lista de 12 setores prioritários identificados pela Conama, Andrade acredita que sua designação como área marítima e costeira protegida dependerá dos estudos complementares que forem feitos, da articulação das duas regiões e do grau de consenso que alcançarem os setores envolvidos.
(Por Daniela Estrada, Terramérica, 03/07/2006)
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