Sites de resíduos negociam matéria-prima mais barata
2006-07-03
"Tudo o que não presta e que se joga fora." Esse é o significado de lixo em um dos principais dicionários brasileiros. É, ainda, a definição dada por muitas firmas para os resíduos descartados no processo industrial.
Para as federações regionais das indústrias, no entanto, a palavra tem outra concepção: "subprodutos com potencial de comercialização". As entidades defendem que sobras de plásticos, solventes usados e restos de madeira podem servir para a elaboração de outros itens.
Foi com esse intuito -o de compra e venda de materiais que seriam jogados fora- que nasceram as bolsas de resíduos. São iniciativas para promover a aproximação das empresas que descartam essas substâncias e das que querem adquiri-las.
O país já tem ações como essas distribuídas por Rio de Janeiro, Amazonas, Ceará, Paraná e Santa Catarina.
São Paulo é um dos Estados que dispõem de uma bolsa de resíduos pela internet. Além de não ser necessário se associar à Fiesp (federação das indústrias paulistas) para utilizar o serviço, a participação é gratuita.
Relançada em 2002 - uma primeira experiência foi feita entre os anos de 1986 e 1994-, reúne 1.704 empresas. Delas, 81,7% são micro e pequenas.
Entre 2002 e 2004, de acordo com a entidade, foram negociados cerca de R$ 20 milhões. "A comercialização de resíduos pelo site tem crescido ano a ano. A expectativa é que mais empresários integrem a bolsa", prevê Ricardo Garcia, especialista em resíduos sólidos da área de ambiente da Fiesp.
Lançada em 2000, a ação conduzida pela Firjan (federação das indústrias fluminenses) conta com 280 empresas cadastradas. Em uma pesquisa de 2005 com 250 participantes da bolsa de resíduos, 75,7% dos 90 respondentes disseram ter sido consultados sobre os anúncios postados no site no ano passado. O índice fora de 50% em 2001. Em 2005, essas companhias receberam, em média, sete consultas.
Os empresários demonstram estar animados com a iniciativa. Pelo levantamento da Firjan, 82,9% delas asseguram estar satisfeitas com o serviço.
"Normalmente, há a oferta de produtos bem mais baratos no sistema [do que os encontrados em lojas]. Também é possível encontrar itens gratuitos", assinala Carolina Zoccoli, analista de ambiente da Firjan.
Para o consultor de orientação empresarial do Sebrae-SP (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) Wlamir Bello, os bancos de resíduos são uma oportunidade de o empresário rever o poder de compra. "É uma alternativa viável, já que é mais barata que produtos novos", avalia.
E o mercado, segundo consultores, tem tudo para crescer.
Na prática, enquanto para uns a compra de resíduos é uma forma mais barata de adquirir matéria-prima, para outros, é também uma maneira de dar um destino a esse material.
"Não é a solução para os resíduos sólidos, mas é uma das saídas para eles", diz Garcia.
Por Raquel Bocato, Folha de S. Paulo, 02/07/2006.
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/negocios/cn0207200601.htm