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2006-07-02
A Organização Meteorológica Mundial (OMM) alerta existir uma pequena possibilidade de o El Niño reaparecer no fim do ano, um fenômeno climatológico imprevisível que em 1997 e 1998 deixou milhares de mortos e prejuízos multimilionários. O organismo da Organização das Nações Unidas advertiu em março que há condições atmosféricas similares às do começo do fenômeno em toda a Bacia do Pacífico.

Na época, de um modo incomum, as temperaturas frias do mar, somadas a outras mudanças atmosféricas, geraram um fenômeno que ainda não foi esquecido no litoral latino-americano. O El Niño é capaz de provocar tanto seca quanto inundações.

Enquanto que com o fenômeno a temperatura da superfície do mar na parte central e leste do Pacífico tropical costuma ser muito superior à normal, com La Niña tende a ser inferior. Essas variações de temperatura podem provocar grandes oscilações do clima, das mais variadas, no mundo inteiro.

As oscilações vão desde fortes inundações e surtos epidêmicos na África ou secas na América Latina e incêndios na Austrália, até a antecipação da floração das cerejeiras no Japão, o encurtamento da temporada de furacões no Caribe ou a fertilidade de desertos como o de Atacama.

Os fenômenos El Niño e La Niña, batizados assim pelos pescadores peruanos que detectaram um aumento da pesca nas vésperas do Natal, costumam ocorrer ciclicamente a cada quatro ou cinco anos e foram registrados pela última vez em 2002/2003, embora não tenha sido tão intenso como em 1997 e 1998.

Aquecimento
Após quatro anos sem o El Niño, a OMM advertiu ter detectado um progressivo aquecimento das águas tropicais, alteração que gera o fenômeno devastador, que costuma estar associado, por sua vez, a uma temporada de furacões mais suave que a habitual. No Atlântico tropical, a temperatura das águas superficiais foi relativamente alta durante o mês de maio, com uma anomalia de 0,51 grau centígrado, enquanto no Caribe essa diferença chegou a ser de 1,10 grau.

Em todo caso, essa anomalia não excedeu a registrada nesta época em 2005, quando ocorreu a temporada de ciclones tropicais (junho a novembro) mais ativa da história, até o ponto em que, pela primeira vez, a lista de nomes elaborada pelos cientistas para designar os furacões chegou ao fim. Além disso, a OMM acredita que teria que ocorrer uma alteração brusca que fizesse com que as condições atuais, consideradas “neutras”, favorecessem a reaparição do El Niño no fim do ano.

Ainda assim, adverte que há muitos outros fatores locais que podem elevar a temperatura da superfície oceânica e, portanto, aumentar consideravelmente a probabilidade de ocorrência de fenômenos climáticos incomuns nas zonas tropicais nos próximos meses. Entre eles, a OMM cita as condições mais quentes que o normal que prevalecem na zona tropical setentrional do oceano Atlântico e que “poderiam alterar a probabilidade de certos fenômenos climáticos em muitas regiões continentais próximas”.

Ondas enormes
A zona sudoeste tropical do Pacífico também apresenta “uma extensa área” na qual a temperatura da superfície do mar é mais quente do que o normal, e que poderia provocar variações significativas no clima. Por outro lado, a OMM acredita que o esfriamento das águas equatoriais de superfície nas proximidades do litoral da América do Sul perderá intensidade rapidamente e não provocará mudanças que afetem toda a bacia.

Nos últimos dias, outro fenômeno natural afetou o litoral que vai do México ao Peru, com enormes ondas que entraram quilômetros adentro do continente e que são as reminiscências de uma tempestade do Pacífico Sul, onde o inverno começou agora. Além disso, cada vez são mais freqüentes as alterações climáticas bruscas que, segundo os cientistas, se devem ao aquecimento progressivo do planeta.

Há pesquisadores que estão convencidos de que o fenômeno El Niño pode chegar a ser permanente se o aquecimento global persistir, tal como o Plioceno, um período que começou há cinco milhões de anos e em que se acredita que o Pacífico registrava temperaturas similares às atuais.
(Gazeta do Povo, 02/07/2006)
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