Brasil e Argentina estão às vésperas de novo confronto, desta vez
quanto ao fornecimento de energia elétrica. O assunto vem sendo mantido
em "banho-maria” há cerca de dois anos, quando a Argentina interrompeu
um contrato de fornecimento de 2,2 mil MW de energia ao Brasil, mas a
seca que está afetando a região Sul brasileira está trazendo a questão
para a ordem do dia.
Devido à seca no Sul, que está se configurando como a pior de todos os
tempos na região, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) está
precisando da energia que Furnas e Tractebel contrataram junto à
Companhia de Integração Energética (Cien), controlada pelo grupo
espanhol Endesa. A Cien, por sua vez, fez contratos com empresas
argentinas e construiu uma linha de transmissão de mais de 1 mil km
entre os dois países, mas essa energia não está sendo entregue.
A geração comprada pela Cien seria fornecida por meio de térmicas movidas
a gás natural, mas com o aumento do consumo desse combustível naquele
país, com a chegada do inverno, os argentinos não estão entregando a
energia e anunciaram que poderão restabelecer o contrato só a partir de
2008. Além disso, em abril, interromperam o fornecimento de gás natural
à térmica AES-Uruguaiana, e que poderia estar sendo despachada devido
à forte seca no Sul.
Na semana passada, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel)
zerou o lastro dos contratos de Furnas/Eletrobrás e Tractebel e
ameaçou punir as empresas, caso não consigam novas fontes de suprimento
para cobrir os contratos com a Cien, sendo 700 MW para Furnas e 300 MW
para Tractebel. Pelo novo modelo do setor elétrico, as geradoras têm de
comprovar a existência de 100% de lastro para seus contratos. Ou seja,
têm de ser capazes de fornecer a energia contratada, assim que
despachadas pelo ONS.
O problema deverá se agravar nos próximos meses com a elevação dos
preços de referência no mercado atacadista de energia. Dia 21, a tarifa
de referência no Sul subiu para R$ 76,67 por MW/h, bem acima dos R$
53,00 do contrato de importação da Argentina. O ONS tem de
disponibilizar a energia de fonte mais barata. Os preços devem subir
mais.
(
Correio do
Povo, 02/07/2006)