Com tiros certeiros desferidos por um caçador, terminou na semana
passada a incrível aventura de Bruno, o urso-pardo que durante quase um
mês driblou os guardas-florestais alemães empenhados em capturá-lo.
Bruno não era um animal qualquer. Ele pertencia à segunda geração de um
grupo de dez ursos-pardos transportados em 1999 da Eslovênia para os
Alpes italianos, num projeto destinado a reintegrar a espécie na região.
Na Europa, na América do Norte e em alguns países asiáticos, a
reintegração de espécies que desapareceram de um determinado território
costuma ser feita com o objetivo de preservar em liberdade animais
ameaçados de extinção ou para restabelecer o equilíbrio na
biodiversidade da região. Os problemas surgem quando os animais
devolvidos à natureza são predadores de grande porte. Além de atacarem
suas presas naturais, muitas vezes avançam sobre as criações dos
fazendeiros. Esse foi o caso de Bruno.
Em lugar de permanecer nos Alpes italianos com os outros ursos, Bruno
deslocou-se pelas florestas austríacas até chegar à fronteira com a
Alemanha. Tornou-se o primeiro urso em liberdade visto por lá desde o
século XIX. No caminho, transformou em refeição três dezenas de
carneiros, além de coelhos, galinhas e colméias – obviamente, os
criadores ficaram enfurecidos. Por diversas vezes foi visto nos
arredores de vilarejos e pequenas cidades, despertando o temor de que
sua próxima vítima fosse uma criança. A princípio, os alemães tentaram
capturá-lo vivo, usando dardos tranqüilizantes, para depois devolvê-lo à
região de origem, mas Bruno despistava até mesmo os cães farejadores em
seu encalço. Por fim, as autoridades alemãs emitiram uma ordem para
pegá-lo vivo ou morto. A morte de Bruno causou comoção na opinião
pública alemã, que já o havia transformado em celebridade, uma espécie
de herói fugitivo. "A viagem de Bruno foi uma tentativa de buscar
território novo, um comportamento típico de ursos jovens", disse a VEJA
a engenheira florestal Joanna Schonenberger, do World Wildlife Fund
(WWF), que atua no projeto de reintegração e monitoramento do urso-pardo
europeu na Eslovênia e nos Alpes da Itália e da Áustria. "Os ursos
jovens são muito curiosos", ela completa. A curiosidade custou a vida a
Bruno.
A volta do predador
Nos anos 20, convencido de que os lobos do Parque Yellowstone eram uma
ameaça às fazendas vizinhas, o governo americano determinou que fossem
mortos a bala. Hoje, em tempos de consciência ecológica, o lobo está de
volta. Em 1995, 31 animais capturados no Canadá foram soltos em
Yellowstone. Atualmente já são 118. Lobos também foram soltos nas
montanhas francesas e em outros pontos da Europa. Nos Alpes suíços, os
beneficiados foram os linces. No fim dos anos 70, vinte deles foram
importados da Romênia. Hoje, a população suíça de linces é de 100
animais. A complicação na maioria dos casos é que não há modo de
convencer os predadores a respeitar as divisas das reservas. Eles acabam
por atacar animais domésticos, provocando protestos e até tiros dos
fazendeiros.
(Por Leoleli Camargo,
Veja,
05/07/2006)