Espécies exóticas, essenciais – Artigo
2006-06-30
Eucalipto é responsável por regeneração de ecossistemas.Entre as críticas
que alguns grupos fazem ao plantio de eucalipto no País está o fato de ser
uma planta originária da Austrália e da Indonésia, o que a caracteriza
como uma espécie exótica.
Parecem esquecer que a maioria da alimentação dos brasileiros, bem como
parte do combustível usado no Brasil são igualmente de origem inicial
externa, ou seja, exóticos, tendo sido adaptados ao país a partir de
amostras, mudas ou sementes trazidas do exterior. É o caso, entre outros,
do arroz, que veio da Ásia, do café, originário da Arábia, da soja da
China, da cana-de-açúcar da Índia, do frango e do gado bovino da Europa e
da Ásia. E até mesmo o nosso famoso coco da Bahia foi introduzido no
Brasil.
Uma das características mais positivas do Brasil tem sido essa sua
capacidade de adaptar e melhorar produtos originários de outras regiões,
para o que, no caso da produção agropecuária, concorre a ampla diversidade
de solos e climas em decorrência de nossa extensão continental. Assim,
cada grupo de imigrantes trouxe seus hábitos alimentares e os adaptou às
condições do País, no que foram auxiliados pelos competentes técnicos e
cientistas brasileiros. Antes importávamos maçãs, hoje somos exportadores,
trazíamos o kiwi da Nova Zelândia (embora originário da China), hoje
temos o produto nacional, o mesmo acontecendo com o morango, a laranja, a
papaia, o shimeji, o shitake, o peru e outros alimentos incorporados ao
nosso dia-a-dia. Não fosse essa adaptação de espécies exóticas ao solo brasileiro teríamos
dificuldade em alimentar toda a população brasileira e as exportações do
País sofreriam forte redução (em soja, álcool, açúcar, café, frango e
carne bovina estamos na liderança mundial).
O mesmo se pode dizer do eucalipto e das varias espécies de outras
árvores que vieram colaborar com o desenvolvimento do País, permitindo a
produção do papel essencial à cultura e à educação, além de postes,
móveis, e até mesmo carvão vegetal. Além de evitar a destruição de árvores
naturais para esses fins, as plantações de eucaliptos e pinheiros vêm
sendo responsáveis por importantes projetos de regeneração dos
ecossistemas anteriores, degradados pelo uso inadequado da terra. Hoje,
no sul da Bahia e em outras regiões de plantação industrial de eucaliptos
e pinheiros, o plantio adequado, respeitando as leis e normas ambientais,
se vê com satisfação que está havendo a recuperação do ecossistema
original – a Mata Atlântica.
O presidente Lula colocou como sua prioridade
garantir alimentação adequada a todos os brasileiros – o que está sendo
conseguido pelo aumento da produção de alimentos, principalmente dos
provenientes de espécimes exóticas. Da mesma forma, outras prioridades
brasileiras, como o desenvolvimento, a geração de empregos, a educação e
a cultura vão sendo atendidas pelo crescimento de outros produtos naturais
exóticos incorporados ao nosso dia-a-dia, como eucaliptos, pinheiros,
cana-de-açúcar, algodão, etc., que propiciam o atendimento ao mercado
interno e à exportação, na forma de combustível, papel, tecidos e roupas.
Foge ao bom senso exorcizar a contribuição dos agrônomos e cientistas
brasileiros, que adaptando espécies trazidas do exterior permitiram
melhorar nossa alimentação e criar condições para um desenvolvimento mais
equilibrado do País. Mais importante ainda é lembrar que se os exóticos
fossem problema, seria necessário substituir a população do País,
incluindo a maior parte desses grupos contrários ao eucalipto, pois somos
uma nação predominantemente formada de descendentes de origem européia,
africana e asiática, com lamentavelmente pouca participação da população
original da época da chegada da civilização ocidental ao Brasil.
Otávio Pontes é vice-presidente da Stora Enso América Latina
(Gazeta Mercantil, 30/06/2006)
http://www.gazetamercantil.com.br/pt/opiniao/coluna.aspx?ID_NOTICIA=162658039