Jardim Keralux vive sob risco de contaminação (SP)
2006-06-30
Pelo menos 6 mil moradores do Jardim Keralux, na zona leste, estão em um bolsão de contaminação por produtos químicos que atingem solo, água e ar. O bairro tem cerca de 20 mil moradores. Além de estudos de técnicos da Prefeitura e Sindicato dos Químicos, Plásticos e Farmacêuticos, há processos no Ministério Público Federal contra a empresa que é considerada a responsável por essa situação: a Bann Química.
A indústria, que já recebeu 23 multas e 8 advertências da Cetesb, produz aditivos para fábricas de borracha, usando produtos químicos altamente tóxicos.
Desde 2004, a médica sanitarista e do trabalho Magda Andreotti, da Coordenadoria de Vigilância em Saúde (Covisa), estuda o caso. Segundo ela, duas situações podem ocorrer no Jardim Keralux. No caso de vazamento em grande escala, os produtos serão carregados pelo ar e atingirão toda a região, onde funciona o campus da USP Leste. "Não temos como dimensionar quantas pessoas poderão ser afetadas."
A segunda situação seria a explosão de um tanque ou reator, o que afetaria imediatamente quem mora ao lado da empresa e seus 360 funcionários. Mesmo que nunca aconteça uma tragédia a população está exposta à contaminação, segundo Magda. "Se sentem o cheiro é porque estão inalando o produto."
Entre as substâncias manipuladas pela empresa estão quase 500 toneladas por mês de ciclohexilamina e anilina. A primeira é inflamável e ambas são cancerígenas.
No bairro há 30 anos, a Bann Química nega os riscos. O advogado Caio Varga garante que a Covisa exagera. "Não existe essa situação. Somos fiscalizados por todos os órgãos competentes." Ele afirma que nunca ocorreu acidente com morte.
A Cetesb informou que a Bann Química é a empresa que causa mais problemas. A última multa foi de R$ 105 mil no dia 22, por causa de forte odor. A Cetesb não abriu processo de interdição porque entende que não há risco iminente.
Vizinha da empresa, Kátia Pereira, de 27 anos, conta que há oito meses, um líquido quente e malcheiroso subiu pelo piso da casa, destruindo as camas. O gato morreu em contato com a substância. "Meu marido procurou a Bann Química, que deu um beliche e remédios."
(Por Marici Capitelli/O Estado de S. Paulo, 29/06/2006)
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