Começou tensa, ontem (28/06), a intervenção federal na Reserva do Ligeiro,
em Charrua, no norte do Estado. Pela manhã, 300 índios caingangues que
haviam saído do local há dois meses devido a disputas internas retornaram
à área sob escolta policial.
Cinco interventores da Fundação Nacional do Índio e do Ministério da
Justiça acompanharam a movimentação. Eles ficarão na reserva por pelo
menos duas semanas, com 20 PMs, até que seja restabelecida a normalidade
entre os indígenas.
Às 9h, quatro ônibus e dois caminhões, tendo à frente viaturas da Polícia
Federal e da Brigada Militar, entraram na reserva de 4,5 mil hectares.
Tão logo começaram a desembarcar dos veículos, os índios dissidentes
foram cercados pelos do grupo que permaneceu na área. A troca de ofensas
foi generalizada. Cinco mulheres acabaram trocando agressões com pedras,
tapas e puxões de cabelo. Os policiais tiveram de intervir para encerrar
a briga.
Uma espécie de toque de recolher foi improvisada pela polícia. À medida
que os índios voltavam para suas casas, porém, novos bate-bocas
aconteciam. Ao longo do dia, interventores e policiais tiveram trabalho
para negociar com os dois rivais. Os que retornavam se queixavam de que
suas casas estavam ocupadas ou tinham sido depredadas. Os demais diziam
que os dissidentes haviam abandonado as residências, o que permitiria sua
ocupação.
A dona de casa Jocélia de Oliveira, 31 anos, afirma que sua casa foi
atingida por disparos de espingarda na semana passada.
- Imagina se matam um filho meu, quem iria responder por isso? - questiona
a caingangue, casada e mãe de seis filhos.
A presença dos interventores que destituíram a liderança poderão ter sua
permanência prorrogada por tempo indeterminado, caso a situação de
conflito não se resolva em duas semanas.
(Por Cleber Bertoncello,
Zero Hora, 29/06/2006)